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jun 24 2021

VIVI FESTAS JUNINAS PERIGOSAS

—RENATO RIELLA—

Tenho saudade das minhas festas de São João, alucinadas.

Há muuuuuuitas décadas, em Salvador, eram totalmente politicamente incorretas – quase criminosas.

 

A gente fazia tudo de mal, na Cidade Baixa da Capital. Só sacanagem!

 

A mania era estourar traquinho na mão, segurando pelo fundo, para mostrar macheza.

Nosso grupo cobria bombinhas com latas de leite Ninho, que subiam como foguete. Às vezes caíam na cabeça de alguém. O mais corajoso era aquele que levava a lata até a bomba.

 

Vi – sem reagir – meninos amarrando traquinho no rabo de cachorros que viviam na rua. O bicho saía alucinado quando a gente acendia o pequeno petardo.

 

Porém, os nossos cachorros não tinham essa frescura de se apavorar com o barulho dos foguetes, Não estavam nem aí. Ficavam olhando, curiosos, achando que a gente era um bando de imbecis, ao brincar com fogo.

 

Fizemos bagunças criativas, muito perigosas, com as fogueiras. Jogávamos brasinhas uns nos outros, da forma mais inocente possível.

 

E soltávamos balões de todo tipo, para queimar as matas próximas, que resistiam bravamente.

 

Com 10 ou 12 anos, a gente tomava porres “inocentes” de licor de jenipapo – ficava todo mundo bebão.

 

Um primo e minha prima, um pouco mais novos, beberam este licor docinho como se fosse refresco. Quando vimos, os dois estavam querendo pular da janela do primeiro andar. Foi o maior barato (acabaram salvos a tempo).

 

Vi adulto se queimar seriamente, ao soltar para o alto os foguetes de explosão chamados de Adrianino. Às vezes, o troço explodia na mão da pessoa, em vez de subir, e o jeito era visitar o hospital.

 

Na cidade de Senhor do Bonfim, vi adultos arriscando a vida com a chamada “guerra de espadas”, foguetes lançados horizontalmente para acertar o “grupo inimigo”. Numa vez, uma espada entrou na casa da minha irmã Vera e fez estragos alucinantes.

 

Se fosse hoje, estaríamos no Juizado de Menores, denunciados pelas respeitáveis famílias . De vez em quando, um de nós ia para o pronto-socorro com o dedo estourado. Mas como isso valia a pena!

 

De verdade, tive um amigo, chamado Almiro, que perdeu parte do polegar. Andou como herói na escola, com enormes esparadrapos na mão. Curado, mostrava a uns e outros o estrago.

 

A gente vivia como se estivesse no faroeste – imune aos perigos. John Wayne total! E quem comprava os foguetes era meu pai, Agenor, que chegava mais cedo do trabalho com os petardos.

 

Lembrei de outra barbaridade. Na nossa rua, morava um holandês, muito amigo do meu pai. O bom homem veio para o Brasil, depois da Segunda Guerra Mundial, cheio de lembranças aterrorizantes dos bombardeios.

 

Nosso grupo de pequenos marginais, em algumas festas juninas, explodiu bombinhas inocentes na varanda do holandês, produzindo efeitos horríveis. Hoje tenho remorso por este fato. Ele reclamou com meu pai.

E assim ia.

 

Hoje, o São João ainda é forte na Bahia, mas virou uma festa de molóides.

 

A festa junina me fortaleceu para esta vida, tão cheia de perigos e ameaças. Nada me atinge!

E até hoje sinto aquele cheiro intenso de pólvora e fumaça, que dominava o ambiente, no dia 24 de junho.

 

Detalhe: a data oficial de São João é o dia 25, quando ocorre o feriado, mas a gente comemorava (e comemora) na véspera.

Inesquecível! Eu vivi!!!!

 

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