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maio 10 2015

VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR NA HISTÓRIA DA MINHA MÃE

RENATO RIELLA

Minha mãe, Cecília, sofreu muito, mas teve uma vida muito feliz depois dos 20 anos de idade – e é uma lição de Fé.

Quem pensa que as coisas nunca vão melhorar precisa conhecer a história dela, que dá um livro emocionante. Isso ocorreu no início do século passado.

Meu avô, Paulo, até tinha condição financeira, como dono de uma famosa pensão na Cidade Baixa de Salvador —– MAS ERA MISERÁVEL.

Paulo de Almeida só se salvava na música, pois tocava feliz com os filhos, a quem ensinou diversos instrumentos, formando um ótimo conjunto de cordas.

Minha avó Firmina ficou dois anos numa cama, morrendo de tuberculose, quase sem atendimento médico, sendo cuidada por minha mãe, uma garota de dez a doze anos. Tente visualizar este quadro dramático!

Um dia, Firmina chamou Cecília no quarto, pediu ajuda para tomar um difícil banho, voltou para se deitar e disse calmamente à filhinha: “É hoje que vou embora”. Horas depois morreu.

 

UMA MADRASTA “COBRA”

Meu avô logo se “juntou” com uma cobra chamada Anita. A madrasta maltratava as quatro enteadas e um enteado, todos crianças, de forma maquiavélica (Paulo tinha dois filhos mais velhos, de relacionamentos avulsos, tratados como incômodos).

As cinco crianças órfãs dormiam num porão sem iluminação. E recebiam péssima alimentação.

Pensaram até num suicídio coletivo, não concretizado porque foram descobertos por uma irmã mais velha, Judith (filha de relacionamento anterior), que encontrou o veneno de rato já comprado.

No auge dos sofrimentos, Aurora, a mais nova e mais frágil – menininha! menininha! – pegou uma tosse e uma febre que não passavam. Todos temiam pela tuberculose, que não tinha médico nem cura.

De noite, uma empregada preta bem antiga, ex-escrava, que dormia ao lado das crianças no insalubre porão, gritou para minha mãe: “Cina, Cina, veja isso!”

Logo entrou no quarto, onde dormiam os cinco pequenos abandonados, um vulto luminoso. Este vulto sentou-se na beirada da cama de Aurorinha, emitindo um rápido farfalhar de energia cósmica, e sussurrou: “Vamos rezar uma Ave Maria!”.

Era o “fantasma do bem” da falecida mãe. Após a reza, Firmina levantou-se e desapareceu na sua luminosidade noturna. Aurora curou-se e os irmãos obtiveram uma força inesperada.

 

A JUSTIÇA TARDA, MAS CHEGA

As mais velhas, Angélica e Cecília, tomaram coragem e contaram os sofrimentos a uma professora, que decidiu agir.

As duas irmãzinhas torturadas, com cerca de 14 anos, foram levadas em audiência no Juizado de Menores da Bahia. Dias depois, o orgulhoso Paulo de Almeida recebeu a visita de inspeção de uma assistente social – e ficou furioso.

Mas o miserável acabou punido. Perdeu até a guarda dos cinco filhos. Passou a pagar pensão mensal ao filho natural que ele tinha, bem mais velho, que cuidou dos irmãos durante alguns anos. Imaginem este nível de justiça há quase cem anos!

Moral da história: todos cresceram, foram muito felizes, diversos formaram famílias, com ótimo padrão social e econômico. E sempre contaram esses dramas rindo, sem ódio aparente.

Por incrível que pareça, os filhos perdoaram Paulo, que ia muito lá em casa, onde formou minha irmã Vera como excelente pianista.

Ele era um cara interessante, charmoso, de paletó branco e gravata borboleta vermelha, grande namorador, clarinetista de porte, da Banda Nacional do Exército —- PORÉM MISERÁVEL!

Levava sempre balinhas de mel para mim, enroladas em papel vegetal. E era grande colecionador de adágios, os chamados ditados populares do Nordeste, em caderninhos que infelizmente se perderam.

Décadas depois, tio João cuidou muito bem da madrasta, a bruxa Anita, esquecendo as torturas. Meu avô faleceu antes e a tal mulher não tinha ninguém na vida. Anita sempre foi um nada, mas devia ter borogodó… Morreu protegida pelo enteado, quase santo, o meu padrinho de batismo.

 

TUDO ISSO É MESMO INACREDITÁVEL

Assim, amigos e amigas de fé ou sem fé, neste Dia das Mães faço oportuno registro: tive uma mãe inacreditável!

Cecília morreu há pouco tempo. Ela sabia que tinha câncer de fígado terminal. Foi andando (ajudada) ao hospital, consciente e até bem humorada, falecendo pouco depois.

Nos últimos dias, levou horas e horas etiquetando tudo o que tinha: presentes para filhos, netos e parentes, com bilhetinhos.

Haja Fé!

 

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