JORGE EDUARDO
Aos 90 anos, deu adeus a este planeta o sr. Fidel Castro.
Sai da Terra com uma das missões mais conturbadas que já vi. Ao mesmo tempo que teve o mérito de tirar Cuba da condição de prostíbulo de luxo dos norte-americanos, transformou o país em um território particular, um grande latifúndio dele e do irmão.
Fidel encarnou a dicotomia comum da segunda metade do século passado, a luta do bem e do mal, o socialismo ditatorial versus o capitalismo desumano, a URSS contra os EUA, a guerra fria. Mas, tal como tudo isso, era mais complexo que a simplória simplificação da dualidade.
Estive em seu país em 2005, já em outros tempos, mas era ainda evidente que, se os tempos de paredons e julgamentos sumários havia ficado para trás, o mundo ideal também não existia. Isso é fácil de explicar: não se constrói nada com supressão de liberdade. E muito menos com imposição de opinião.
Fidel não será julgado por mim. Só por ele mesmo e pela história. O julgamento histórico ainda tarda. O consciencial começa agora.
De um lado da balança estarão os feitos de bem – o fim da tirania de Fulgencio Batista, o fim da bordelização de Cuba, o estabelecimento de boas práticas de saúde e educação (que já em 2005 não eram as mesmas, como constatei in loco, apesar de um “sombra” cuidar dos meus passos em Havana) e o desenvolvimento de um país atrasado.
Do outro, os fuzilamentos, a supressão de liberdades individuais, o acordo com os soviéticos, as artificialidades econômicas e a constantes manipulações de pessoas.
Que ele saiba se julgar com a maior justiça possível. Algo que nem sempre ele e os companheiros souberam fazer.