SERGIO GARSCHAGEN
Morei um ano inteiro nos EUA, trabalhando, e me espantei (positivamente) com os tributos ao consumir: em média, 6% (7%, que incide sobre automóveis). Cobrados à parte, com boleto diferente.
No Brasil, os tributos são embutidos nos preços e nunca são inferiores a 35%, que aqui é o mínimo que também incide sobre a compra de um carro nacional, bem mais simples e defasado tecnologicamente.
Parece – se estou errado alguém me corrija, por favor – que lá o governo favorece o consumo. Recolhe muito imposto sobre alto consumo.
Aqui, consome-se pouco e as taxas tarifárias são altíssimas. Brasileiras grávidas vão a Miami comprar roupinhas, caminhas e carrinhos de bebês. Fica mais barato mesmo com as passagens e hotéis.
Esta semana li que delegação chinesa chegou a Washington disposta a negociar uma redução drástica no déficit norte-americano no comércio com a China. A China está disposta a importar pelo menos mais US$ 200 milhões/ano de produtos dos EUA.
Os gringos, longe de ficarem felizes, se assustaram: o parque industrial do país não tem margem para aumentar a produção e atender a pretensão chinesa. Já trabalha em três turnos e com pleno emprego no chão de fábrica.
A contraproposta de Trump: obter esses US$ 200 milhões com um fim da pirataria industrial, via pagamentos de royalties, fazendo com que os chineses suspendam a prática de copiar produtos de outros países, principalmente dos EUA.
Aqui, é tudo ao contrário. Temer já pensa em reduzir os preços dos combustíveis ( ah! o segundo mais alto do mundo ), mas aumentando os impostos que incidem nas folhas de pagamentos das empresas. Ficará mais caro para os empresários contratarem mão de obra. Desemprego à vista e a prazo.
Conheci um pesquisador brasileiro, anos atrás em Brasilia. Ele me disse que mora em Washington e trabalhava em casa, para uma universidade. Pelo simples fato de ter um home-office, ele tinha e ainda tem direito de abater no Income Tax, o IR norte-americano.
Não usa serviços públicos na maior parte do dia, o que reduz a pressão por transporte público e obras viárias. Aqui é proibido. “Tem que ter endereço comercial”. Fui advertido, com uma multa de R$ 800 há uns 15 anos.
Bill Gates criou a Apple na garagem da casa dele. Fosse no Brasil, um fiscal pentelho do Trabalho o multaria: ” Tem que ter endereço comercial!”.
Como bem lembrava Nelson Rodrigues, ” o subdesenvolvimento é obra de séculos”).