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abr 04 2016

ARTIGO: VERMELHO

FRANCISCO SEIXAS DA COSTA (De Lisboa)

Li ontem no “Público” que, no Brasil dos dias de hoje, se torna arriscado sair à rua vestido com algo de cor vermelha. Quem assim procede é visto, seja ou não seja, como apoiante do PT, ficando, no mínimo, sob o imediato risco de ser insultado, quando não mesmo agredido. Que tristeza!

Quando uma sociedade chega a este ponto de tensão, a democracia não pode estar de boa saúde.

Há muitos anos, quando fui trabalhar para a embaixada em Londres, ao final de alguns meses, veio ver-me, numa tarde, um recém-criado amigo inglês, homem bastante mais velho, infelizmente já desaparecido.

Suspeitei que queria dizer-me alguma coisa de pessoal, pelo modo como conduziu a conversa. A certo passo, foi direto ao assunto que ali o trazia:

“Meu caro, vou ser muito franco. Tenho vindo a reparar que, já por mais de uma vez, em jantares mais formais em que temos estado juntos, você tem por hábito utilizar gravatas vermelhas. Talvez não saiba, mas isso, aqui em Londres, identifica vulgarmente as pessoas com o partido trabalhista. Ora acho que você não quererá que isso aconteça, em especial nestes tempos da senhora Thatcher”.

Dei uma boa gargalhada! Não fazia a menor ideia dessa subliminar ligação cromática e confirmei que esse amigo me conhecia ainda muito mal…

—Francisco Seixas conhece muito o Brasil, onde foi embaixador de Portugal

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