O Diário Oficial da Bahia publicou hoje (27) o reconhecimento do caruru de Cosme e Damião como patrimônio imaterial do Estado. Hoje é o dia dedicado aos santos gêmeos São Cosme e Damião.
De acordo com o catolicismo, Cosme e Damião eram dois médicos e cristãos que viveram na Ásia Menor, onde hoje é a Síria, entre os séculos III e IV. Eles cuidavam principalmente de crianças doentes e vítimas de violência.
A chef de cozinha Tereza Paim é devota de São Cosme e Damião e oferece o caruru, anualmente, há exatos 39 anos. “Eu tenho uma relação muito próxima com Cosme e Damião. Em todos os meus empreendimentos quando eu faço a inauguração eu sempre eu ofereço a eles”, relata.
Aqui no Brasil, o culto aos santos teria chegado com os primeiros portugueses, mas a tradição de oferecer caruru aos gêmeos não tem nenhuma relação com o cristianismo e é totalmente brasileira, surgida a partir do sincretismo com orixá Ibeji, entidade do candomblé que protege os gêmeos e as crianças.
“Na liturgia do candomblé, a comida de Ibeji, é o caruru. Como no Brasil Ibeji e Cosme e Damião foram sincretizados, o caruru de Ibeji acaba sendo o caruru de Cosme e Damião, mas a referência ainda é da cultura africana”, diz Simas.
O caruru é uma comida de oferenda e os eventos acontecem normalmente nas próprias casas dos devotos de Cosme e Damião. A tradição manda servir primeiro sete meninos com até 7 anos de idade e só depois os convidados podem comer.
Nos restaurantes, o dia 27 de setembro também é dedicado ao caruru. “Se for o meu caruru, não faço buffet. O prato como oferenda tem que ser servido montado. Nele tem arroz, feijão fradinho, farofa de dendê, caruru, vatapá, xinxim de galinha, cana e rapadura, porque é uma comida para criança, então, ele já é servido com o doce, tudo no mesmo prato”, afirma Tereza.
O ato de preparar e “dar o caruru”, como se diz na Bahia, está muito vinculado à tradição dos candomblés baianos e também é um elemento da cultura, por isso ele passou a ser considerado patrimônio imaterial da Bahia, segundo o pesquisador.
“Registrar esses elementos das culturas religiosas afro-brasileiras como patrimônio é, sobretudo, salvaguardar uma história fundamental da formação da cultura brasileira”, afirma Simas.
Os estudos para que a iguaria se tornasse um patrimônio foram feitos pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC). Evanice Lopes, vice-presidente da Câmara de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural (CPHAAN) e relatora do processo, que foi aprovado por unanimidade no último dia 19, exaltou a manifestação baiana.
“Não nos deixa dúvidas de que a Festa do Caruru de São Cosme e São Damião é uma das principais e mais antiga manifestação religiosa popular baiana, reunindo características próprias na junção de símbolos místicos e elementos plurais do sincretismo religioso baiano como estratégia de festejar, celebrar e agradecer”, comenta.
Fonte: SBT
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