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maio 03 2017

CUIDADO COM O BRASIL: OS PRÓXIMOS DIAS

UMBERTO GOULART

O sonho de todo o jornalista é conseguir antecipar cenários. Literalmente brigamos o tempo inteiro pelo privilégio de um dia dizer: eu não disse?

E hoje, depois de tantos acontecimentos, dou uma olhada para trás e digo para mim mesmo: eu não disse?

Antes da Copa eu avisava que construir aqueles estádios era muito estranho. Hoje sabemos porque.

Naquela mesma época eu avisava que as pessoas iam às ruas desordenadamente, “sem lideranças”, porque o país carecia delas.

E sempre disse que caminhávamos para uma revolução violenta. E isso nunca quis dizer que vamos pegar em armas e ir para as ruas matar pessoas.
Mas hoje, diante dos fatos, acho que eu poderia ter sido até mais enfático.

Falei de crise institucional. E explicava que ela existe quando as principais instituições falham.
Executivo, Legislativo e Judiciário – os Poderes – continuam tendo poder. Mas usam esse poder em causas não necessariamente das pessoas que representam: o povo.

Para evitar diminuir seus gastos o executivo propõe tirar direitos, caso da proposta de reforma da Previdência.

O Legislativo – com seus representantes sob absoluta suspeita – tenta legislar em causas absolutamente corporativas. A notícia de hoje é que o relator da reforma da Previdência colocou uma tal de Polícia Legislativa (que nada mais é que os seguranças do parlamento) entre as carreiras que terão aposentadorias especiais.

E o judiciário dividido, lento, pesado, mostra a cada decisão, a face mais perversa de um poder que tudo pode. E que, assim, pode dar ou tirar tudo dos que são amigos ou inimigos de ocasião.

Nas ruas de cidades importantes há uma luta inglória de forças policiais contra bandidos que mandam e desmandam, estejam presos ou não. E os fatos, as fotos, as imagens e a realidade vão compondo o quadro terrível de nossa realidade. O Rio e Janeiro continua lindo, falido e em guerra urbana. Outras capitais também. Preciso enumerar?

A luta e as armas já estão nas ruas. Há uma divisão clara das pessoas. Ora saem em marcha uns vestidos de verde e amarelo; ora os outros, vestidos de vermelho.
Uma multidão de 15 milhões de desempregados sofre em casa.

E os homens que poderiam fortalecer as instituições teimam em provocar a paciência dessa massa silenciosa.

Somos uma panela de pressão. O calor vai aumentando e ela pode explodir a qualquer momento se não aparecer logo uma válvula de escape. A chiadeira já é grande.

O meu alerta continua o mesmo. A história nos ensina como foram resolvidas todas as crises institucionais vividas por inúmeras sociedades.

 

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