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set 15 2021

FLORI, O MAIOR ORTOPEDISTA, SERÁ SEMPRE LEMBRADO

Flori Machado, famoso ortopedista de Brasília, morreu hoje. Foi um dos maiores amigos da minha vida.

Falei com ele no mês passado. O gaúcho craque de futebol havia perdido a longa cabeleira, que ostentou durante mais de 60 anos, por causa do tratamento contra um linfoma.

Dificilmente, no mundo, alguém tem um registro de atendimentos médicos maior do que o do Flori.

Lembro que, há dez anos, o Zé Natal, do excelente jornal Irterlagos, separou a última página para um artigo meu sobre este amigo hoje falecido.

Fui ao Hospital de Base e acompanhei Flori durante algumas horas, vendo ele atender gente de todo tipo.

Correndo, o famoso médico passava pelo politraumatizado, voltava ao pronto-socorro, subia aos andares de internação, atendia pessoas nos corredores e na recepção – e todo mundo acabava, de alguma forma se salvando.

Fiquei cansado com esta maratona.

Sempre engraçado, com aquela estranha cabeleira crescida dos lados. Os amigos sacaneavam, chamando Flori de “índia velha”. Fazia de contas que não ouvia.

Perguntei qual o dia em que ele atendeu mais gente. Respondeu:

-Parece impossível, mas num sábado infernal aqui no HBB acompanhei, em um longo plantão, mais de 200 pessoas.

Recentemente, ele me deu enorme assistência, gratuita, para caso familiar grave, sempre engraçado e otimista. Numa dessas visitas, sentamos para tomar café e resolvemos fazer um cálculo. Perguntei:

-Em 50 anos de profissão, quantas pessoas você já atendeu?

Feitas as contas, chegamos perto de um milhão de pacientes. Meu Deus, será que é possível?

Na verdade, no caso do Hospital de Base, Flori passava a jato pelas macas e quartos, olhava as radiografias na luz da lâmpada e até luz solar.

Em 30 segundos, orientava médicos jovens e residentes sobre as providências a tomar. O importante era decidir, com a imensa experiência adquirida.

A propósito, no artigo da revista Interlagos, dei um título desaforado, provocativo ao extremo, ao dizer:

A ORTOPEDIA DE BRASÍLIA TEM DOIS NOMES: O SARAH E FLORI.

Meu amigo Flori era apaixonado por futebol e até foi jogador profissional do Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, estado de onde veio para trabalhar em Brasília.

Recentemente, estava com necrose no joelho, mas ainda jogava bola no time de “coroas” de Brasília, o Gerovital.

Perguntei: “Como?”

Flori riu com malícia e disse: “Meto injeção no joelho e jogo. O futebol é mais importante”.

Este meu amigo ortopedista é mito.

Há algum tempo, uma manicure chamada Soli estava tomando café em minha casa. Contava para a cozinheira que ficou meses em cadeira de rodas, com ruptura no tendão de aquiles, mas fez cirurgia e estava plenamente curada.

Perguntei onde foi operada. Cheia de orgulho, ela disse:

-Foi o melhor médico do Hospital de Base, ora essa!

Fiz sinal forte e falei.

-“Vou acertar o nome dele: FLORI MACHADO””

Claro que acertei.

Flori foi mesmo o maior. O Sarah que me perdoe.

(RENATO RIELLA)

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