Vou contar pra vocês uma história ótima do meu bisavô, pai do meu avô materno Paulo Almeida.
Há mais de 100 anos, o bisavô chamado Bibiano morava num lugarejo de Sergipe: Itabaiana (hoje, quarta cidade do estado).
Era um homem letrado, como se dizia naquele tempo. Por exemplo, tinha milhares de ditados nordestinos anotados em caderninhos. Não consegui resgatar nenhum. Ficaria rico se pudesse fazer um livro com esses ditados.
Bibiano tornou-se famoso na região por ser grande repentista. Era demolidor nos debates noturnos.
Num dia qualquer, já velho, meu bisavô foi acordado por alguns vizinhos.
Informaram que havia um debate na pracinha. Um repentista jovem, vindo de fora, estava detonando todo mundo.
Bibiano molhou o rosto e o cabelo, respirou, calçou a sandália de couro e saiu junto com os amigos – de pijama e tudo, quase dormindo.
Chegou na praça e ficou encostado numa árvore, ouvindo o duelo verbal. O moço que veio de fora não era bobo. Ficou inquieto ao perceber a chegada do mito da região.
Passados longos minutos, Bibiano deu alguns passos à frente, cumprimentou o adversário com um aceno de cabeça. E sentenciou, bem forte:
DE ONDE VEIO ESTE MOÇO,
QUE NINGUÉM NUNCA O VIU,
VAMOS JUNTARMOS TODOS
E MANDÁ-LO PARA A PUTA QUE PARIU!
Fez-se silêncio. O improviso em versos costumava ser duro, mas cortês – não admitia palavrão.
Porém – tem sempre o porém, o repentista forasteiro deu passos certeiros em direção a Bibiano. Abraçou o velho, a quem levantou o braço direito, e falou:
ESTÁ ENCERRADO O DEBATE!
Não havia mesmo mais o que dizer. Bibiano liquidou a disputa.
Ouvi esta história da minha mãe Cecília diversas vezes, em versões romanceadas. Mas ela já seguiu para as estrelas.
Agora, visitei na Bahia meu tio e padrinho João Almeida (92 anos, super esperto), que me confirmou a fama do Bibiano – mas ele não sabia da história do repente.
Conhecendo agora este bisavô que já se foi, identifiquei meu DNA. Não vem que não tem!
Era tudo muito interessante quando ainda não existia televisão.
