LEDA FLORA
Vá até a janela, olhe um pedacinho do mundo e, inevitável, verá um homem passar a pé ou de carro. Somam mais de três bilhões nos espaços continentais e variam em centenas de aspectos, porque a natureza, que forjou a democracia por ser mãe da diversidade, não deixaria de lado a preferência de cada um de nós. Portanto, não creio em tipos inferior ou superior, mas enxergo um que me provoca – aquele que sintetiza a essência do masculino.
Faz pouco mais de um ano que a ideia do másculo me atenta como conceito. Tentei discuti-la com mulheres e homens mas não saí do ponto morto. Cheguei a pensar que não passava de delírio, mas concluí que nem isso invalidaria uma busca. Verdade ou farsa, pouco importa, quero construir uma imagem até para abandoná-la, quem sabe. Ou adotá-la na forma de crença.
Para facilitar a teoria, fui atrás de homens de verdade que vivem da mentira: atores. E encontrei intérpretes perfeitos do meu masculino imaginário em Sean Connery e Yves Montand no auge de suas carreiras.
Pensei em Johnny Deep, mas desisti, porque ele não transmite segurança à mulher com aquele jeitão de posso sumir a qualquer momento. Richard Gere passou perto, mas rebola um pouquinho ao andar.
No Brasil, encontrei Jardel Filho, que morreu cedo demais, uma pena. Lista pequena e pouco confiável. Paciência, vale para começar.
Com a ajuda dos modelos acima percebi que o homem másculo carece de uma beleza estupenda, se cristaliza em plena maturidade e exibe uma pisada firme. Mais: exala uma sensualidade capaz de atrair uma legião de mulheres sem esforço.
Além disso, elas se sentem tão seguras perto deles que são capazes de atravessar a Avenida Paulista às duas da tarde de olhos fechados, pois mulher adora o tipo protetor. Decide sem suar e sem abusar do voluntarismo, resolve com eficiência probleminhas do cotidiano, mostra coragem sem bancar o herói. Longe de ser tagarela, sabe ouvir, o que revela sensibilidade, e pontuar o discurso feminino com maestria. Mas sabe também se fazer ouvir muito bem.
Com masculinidade exuberante, caminha naturalmente para seu oposto, o feminino, sem medo. Chega devagar, sem atropelos ou afobação, ao sentir a abertura sinalizada pela mulher. Sempre ela. Vencida a etapa inicial de tatear no escuro, pela qual todos passamos ao formar um par, mostra talento para apressar a intimidade, atendendo aos desejos dela e indicando os próprios. Falando sempre e sem vulgaridade. O homem másculo é romântico discreto, elogia com pudor, mente menos, e passa longe da repressão sexual.
Resultado? Cativa, prende, encanta e a mulher faz o que ele quer quase sempre. Como subproduto, ele nem tenta mandar, até porque tem noção de que esse tipo de poder é falso e, portanto, para os fracos.