ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista.
O juiz Sérgio Moro é o símbolo do combate à corrupção no Brasil. É homenageado dentro e fora das fronteiras nacionais.
Detestado pelos petistas porque colocou atrás das grades parte substancial da direção do Partido dos Trabalhadores.
Sua presença na equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro é uma sinalização fortíssima de que o novo governo vai atuar com força contra desvios de verbas públicas e a criminalidade em geral. Surgiu um novo ícone da nova administração.
O general Augusto Heleno, futuro Ministro da Defesa, disse que a política externa brasileira vai tratar com países vizinhos, especificamente, Paraguai, Bolívia, Colômbia e Venezuela, do sério problema das drogas e do tráfico de armas.
É mudança importante, porque até agora o governo brasileiro se mantinha numa posição tímida diante da fabulosa produção de cocaína originária daquele lado da fronteira.
Trata-se do início de nova política de combate aos traficantes, que se combina com a do futuro governador do Rio de Janeiro. Polícia vai atirar para matar em situação de risco.
É início de novo tempo. A vitória de Jair Bolsonaro não é novidade isolada no maremoto que desmanchou a política brasileira. Ele elegeu um filho deputado por São Paulo – o mais votado do Brasil – e outro filho senador pelo Rio de Janeiro. Emplacou três governadores.
Seu partido, o PSL, não era coisa nenhuma antes do pleito. Agora é a segunda maior força da Câmara dos Deputados, com 52 integrantes. Deverá crescer ainda mais quando receber parlamentares originários de legendas que não ultrapassaram a cláusula de barreira.
É uma vitória não prevista pelos institutos de pesquisa de opinião, jornalistas e comentaristas. Todos foram derrotados.
Bolsonaro pouco utilizou a televisão. Seu programa eleitoral dispunha apenas de oito segundos. Trabalhou por intermédio das redes sociais com cenários improvisados, pobres e sem maiores preocupações com luz, som e imagem.
Tudo improvisado. Ou propositadamente improvisado. Coerente, fez o discurso da vitória por intermédio de um telefone celular. Saudou seus eleitores pelo facebook. Só depois aceitou ser entrevistado pelas emissoras de televisão. E o fez em casa, sentado na sua varanda. Não visitou nenhum estúdio. Jogou parado.
Só saiu de seu refugio para ir à Igreja, receber a bênção e fazer sua oração. Essa eleição vai proporcionar muito estudo, alguns livros e bons debates. Emergiu um Brasil diferente que estava à frente dos observadores, mas não era percebido.
A força dos evangélicos revelou sua extensão. A classe média avisou que pretende ascender e os ricos que não desejam retroceder. O projeto socialista não agradou à maioria.
O luto é pesado. Perdedores ainda estão inconformados. Prometem vingança, revanche e ódio. Quem não entender o recado das urnas terá dificuldade para enfrentar o próximo pleito.
O Partido dos Trabalhadores, que já foi fortíssimo, transformou-se numa legenda nordestina. Perdeu cerca de treze milhões de eleitores governados. É derrota importante. Será necessário ultrapassar esta fase de lamber feridas e remoer traições antes de recomeçar o diálogo na esquerda.
Ciro Gomes demonstrou estar vivendo num poço cheio de mágoas.
O presidente eleito precisa conter a euforia e segurar a ansiedade. Ele trabalhou quatro anos para chegar à vitória. Vencer é difícil, manter o território conquistado é muito mais.
Napoleão aprendeu esta lição na Rússia. Hitler na França. Nixon no Vietnã.
Bolsonaro corre contra o tempo. Terá que montar uma estrutura enxuta, eficiente, até o dia da posse. Até lá vai sofrer com o peso dos boatos, dos bajuladores, dos cínicos, dos corruptores e daqueles que anunciam aos jornais seus próprios nomes como escolhidos.
O tempo é curto. Mas as coisas acontecem na hora de acontecer. Nem antes, nem depois.