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jan 01 2019

A DIREITA ASSUME O PODER. PELO VOTO. QUE SIGNIFICA ISSO?

ETHEVALDO SIQUEIRA

Meus amigos petistas parecem não se conformar com a derrota de seu partido e de seu discurso envelhecido. Alguns chegam ao absurdo de se voltar contra a maioria do povo que, em sua avaliação, “se tornou direitista, fascista e reacionária”. Nunca pensam nas razões mais profundas que levaram a maioria de seus eleitores a abandonar o PT e seu discurso, após mais de uma década de domínio político da chamada esquerda trabalhista.

Uma premissa fundamental da democracia é saber perder. Sei que é difícil, por experiência pessoal, depois de cinco eleições em que meus candidatos foram derrotados, em eleições democráticas, segundo todas as regras do jogo. E confesso que torci para que os vitoriosos de 2002 a 2014 fizessem um bom governo para o Brasil.

Minha última derrota ocorreu nas eleições de 2018, em que meu candidato (João Amoedo) foi eliminado no primeiro turno. Que fazer no segundo turno, em que me restava optar entre dois extremos: Haddad ou Bolsonaro? Confesso que não consegui superar minha rejeição a ambos. Por isso, votei em branco.

Pela primeira vez na história democrática do Brasil, teremos um governo marcadamente de direita. Mesmo com dificuldade, tenho que aceitar a experiência. E peço que meus amigos petistas derrotados façam o mesmo: aceitem a vitória da direita, de Bolsonaro, por decisão da maioria dos eleitores.

Não chegaria à infantilidade de pedir a petistas que façam algum tipo de autocrítica em busca das verdadeiras causas que levaram à queda do PT e, em especial, de sua fragorosa derrota diante de um candidato oponente que tinha apenas 8 segundos de televisão e, mesmo afastado dos comícios e nos últimos 30 dias da campanha, acabou por vencer nos dois turnos, com mais de 10 milhões de votos de diferença. E mais: isso se deu contra a opinião da grande mídia, e desmentindo todas as previsões dos analistas de plantão e até as pesquisas de institutos como o Datafolha e o Ibope.

Como explicar a popularidade de um presidente da República eleito que passa agora a representar a esperança da maioria dos eleitores deste País, mesmo com seu temperamento passional, com suas declarações inoportunas e o besteirol de seus filhos imaturos?

Pensemos na obsolescência dos conceitos de esquerda e de direita. Ao longo de mais de 80 anos fui induzido a acreditar que a esquerda era a virtude. E a direita, a exploração e o que há de pior. A esquerda era endeusada, como melhor posição política em favor melhor do povo, dos humildes, do trabalhador. Hoje, depois da desastrosa experiência do PT, a visão da maioria da população sobre a esquerda parece ser outra.

A direita sempre foi apresentada como a encarnação do mal, sinônimo de plutocracia, ou seja, do domínio dos ricos, da consolidação da desigualdade, da identificação com ditaduras do tipo nazifascista.

Felizmente, o povão – que não entende muito de história política nem de esquerda ou de direita – passou a apoiar Bolsonaro, único líder disponível. na esperança de conseguir mudanças concretas, de reformas, de estabilidade econômica, de emprego e, especialmente, de combate sem tréguas à corrupção.

Esse povão vê em Bolsonaro a possibilidade de um governo que se aproxime daquelas metas. E, por isso, tem sido capaz de perdoar ou relevar nesse líder alguns de seus radicalismos e impropriedades verbais, seus deslizes homofóbicos, machistas ou suas frases passionais.

Tudo porque o novo líder acena com as reformas sempre sonhadas e nunca realizadas. E mais: pela primeira vez, ouve o bordão “O Brasil acima de tudo” associado a “Deus acima de todos”.

E, reconheçamos, o patriotismo andava fora de moda. Nesse aspecto, os militares parecem conseguir resgatar esse belo sentimento. Durante quase 30 anos, o PT insistiu demais em seus símbolos supostamente revolucionários, como sua estrela e bandeiras vermelhas – deixando de lado os símbolos tradicionais do País, em especial bandeira do País, e as cores verde e amarela.

Sei que não é fácil explicar a um petista essa guinada à direita que o País acaba de dar. Além dos vários fatores que contribuíram para a derrota acachapante do PT, o que realmente levou a direita ao poder foi, acima de tudo, a terrível experiência petista em quase 14 anos no poder.

O cidadão simples das ruas, por sua vez, ao fazer o balanço da Era PT, percebe que o País não fez nenhuma reforma profunda. Hoje, qualquer cidadão independente é capaz de perceber o terrível legado do lulo-petismo: um Brasil quase ingovernável, arrasado pela corrupção, pelo atraso institucional, por seus déficits gigantescos. Não há paixão política ou ideológica que resista ao desastre político-administrativo associado à corrupção.

Por isso, alguns analistas se limitam a dizer que Bolsonaro é fruto exclusivo do antipetismo que parece dominar a população. Mas não é apenas antipetismo e, sim, identificação com algumas propostas claras de Bolsonaro, como, por exemplo, a de não escolher ministros essencialmente políticos, mas pessoas competentes para os cargos que irão ocupar.

O PT não aprende nem com sua maior derrota. Arrogante, além de não fazer nenhuma autocrítica, o PT, ao lado do microscópico PSOL, quer ainda quer boicotar a posse de Bolsonaro para “marcar posição”, como fez em outras ocasiões: em 1988, votou contra a Nova Constituição e, depois, contra o Plano Real. Esse é o PT histórico. Eu diria melhor: esse é PT histérico, que conhecemos.

E, não tenham dúvida, ainda vai repetir por muitos anos a balela de que o governo Lula retirou “30 milhões de brasileiros da miséria” – talvez os mesmos que Dilma tenha empurrado de volta ao fundo do poço.

Desejo o melhor para o Brasil neste início de governo. Por que, mesmo com as muitas restrições que possamos ter à personalidade do Capitão, ele desperta a tão sonhada esperança de que o Brasil poderá mudar. E a maioria dos que votaram nele – ou eu que votei em branco – estamos dispostos a acreditar em uma grande mudança poderá ocorrer. Como? Em grande parte, graças ao perfil dominante da equipe que Bolsonaro escolheu, com Paulo Guedes, Sergio Moro e Marcos Pontes, entre outros.

De repente, a gente começa a prestar atenção num discurso diferente dessa equipe. Como o de Paulo Guedes – que mostra o abismo econômico em que fomos lançados e aponta uma saída dura e sem ilusões. Que mostra a necessidade matemática e inadiável de o País fazer grandes reformas, não apenas a reforma previdenciária, mas da política e da educação.

Como regime político, a Democracia está longe da perfeição. É a prevalência da vontade majoritária do povo, aferida em eleições livres, num determinado momento. Esse povo pode errar, claro. Mas, também, pode corrigir seus erros nas eleições seguintes.

Depois de sentir que foi traída pelos governos petistas, essa maioria dos eleitores decide optar por novos caminhos. É claro que pode errar novamente. De minha parte, como brasileiro que sempre teve pavor da direita – diante dos mitos que foram lançados contra ela – eu torço para que o Brasil mude para melhor.

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