DECO BANCILLON
Sabe a ironia dessas eleições? Que as duas candidaturas mais rejeitadas segundo os institutos de pesquisa (PT e Bolsonaro) tendem a se confrontar no segundo turno.
Em outros termos, significa dizer que o eleitor que rejeita a truculência de Bolsonaro e que não quer nem ouvir falar em Dilma Rousseff terá um imenso dilema pela frente:
Garantir ao PT mais quatro anos de governo — incluindo aí trazer até a própria Dilma de volta ao governo, já que Haddad desconversou sobre a possibilidade de tê-la como futura ministra — ou lançar o Brasil no imenso desconhecido que seria eleger Jair Bolsonaro presidente.
E isso acontece por um aparente paradoxo: embora as candidaturas de Haddad/Manuela e de Bolsonaro/Mourão sejam amplamente rejeitadas pelo eleitor médio, elas são também as únicas candidaturas que contam com o apoio de eleitores fiéis.
Pesquisas eleitorais mostram que dois terços do eleitor de Haddad e de Bolsonaro dizem ter certeza de seu voto. São pessoas que estão convencidas de suas escolhas e que não abrem mão de jeito nenhum de eleger esses candidatos.
Já quem vota em Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva, João Amoedo, Henrique Meirelles e Álvaro Dias até tem convicção do voto, mas não a ponto de não abrir mão de suas escolhas em nome do chamado voto útil.
O problema é que só dois nomes vão ao segundo turno.
E, hoje, pelo andar da carruagem, quem deverá ir para esse tira-teima eleitoral são Haddad e Bolsonaro, que somam de 45% das intenções de votos.
Os votos somados dos outros seis candidatos mais ao centro (Ciro, Alckmin, Marina, Amoedo, Meirelles e Álvaro Dias) representam, juntos, 25% do eleitorado.
Outros 25% ainda não decidiram em quem votar.
Em resumo: 45% dos brasileiros querem ou Haddad ou Bolsonaro presidente. E 55% não querem nenhum dos dois.
E é aí que entra uma reflexão pessoal:
Se mais de metade dos brasileiros não quer nem ouvir falar em mais quatro anos de PT ou em Bolsonaro/Mourão, não seria o caso dos demais candidatos que orbitam no chamado centro se unirem em torno de uma única candidatura?
Sem uma candidatura que pacifique o país estaremos condenados a mais quatro anos de crises políticas, vivendo sob o risco de um novo impeachment (seja de Haddad ou de Bolsonaro) ou de uma situação ainda mais nebulosa para a democracia: a ameaça de intervenção militar.