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out 05 2019

ARTIGO: Armadilha

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF

O Brasil está preso numa armadilha que o condena a baixo crescimento, reduzido investimento em educação, saúde, segurança e, por consequência, desemprego crescente.

Os economistas gastam tempo, criam fórmulas mágicas, mas não conseguem entregar o que prometem.

Não há diferença entre esquerda e direita. Todos estão envolvidos numa discussão estéril, que não leva a lugar nenhum e coloca o país ao alcance da mão de um temido golpe de estado.

Desde a renúncia de Jânio Quadros até a movimentada presidência Bolsonaro, a perspectiva de virada de mesa enlouquece os articuladores.

No mundo de hoje, ocorre monumental disputa entre China e Estados Unidos. É uma guerra sem tiros, nem bombas. A desavença ocorre pelo controle do 5G, a faixa de comunicação pela internet que permite a inteligência artificial avançar até muito além dos limites conhecidos.

O problema para Washington é que os chineses e uma empresa europeia estão na vanguarda desta tecnologia. Os norte-americanos correm para chegar perto. Enquanto isso não acontece eles tentam limitar a ação dos chineses em diversos pontos do mundo.

A empresa Huawei, que é líder neste setor, já está no Brasil e em diversos países do mundo. Os norte-americanos não possuem, até o momento, nada parecido para tentar concorrer.

A resposta truculenta de Trump é simples: impõe sobretaxas sobre produtos chineses, que respondem da mesma forma. O comércio global recua. É o preço a pagar pela ousadia de Pequim de tentar disputar o primeiro lugar nesta concorrência especialíssima.

A inteligência artificial permitirá carros, ônibus e caminhões autônomos, provavelmente elétricos. Possui várias outras aplicações.

Na guerra, por exemplo, aviões de caça sem piloto, bombardeiros autônomos, mísseis inteligentes e navios sem tripulação. Será o auge na história das guerras. Não mais morrerão soldados, apenas civis.

Os generais promoverão ataques e defesas em seus escritórios, limpos, sem nenhuma mancha de sangue. Poderão almoçar em casa, retornar ao conflito e voltar em tempo de tomar um vinho com a mulher e corrigir o dever de casa das crianças. Chique, limpo e devastador.

A guerra moderna será asséptica. Feita à distância. Quem morrer não terá tempo de gritar, lamentar, nem de perceber que morreu.

O mundo está se preparando para se organizar em torno da inteligência artificial. Os chineses são pacientes. Eles possuem mais de três trilhões de dólares em reservas. Não têm receios do futuro.

Essa nova divisão do mundo deverá colocar a China e seus associados de um lado e norte-americanos e aliados de outro, até que um dos lados consiga superar o adversário.

Ou seja, Japão e países da Europa passam a ser coadjuvantes de luxo neste conflito.

Latino-americanos entram na história como meros fornecedores de matéria prima, alimentos e algum tipo específico de produto industrializado, no caso brasileiro, aviões.

Nas últimas duas décadas, a indústria brasileira reduziu sua participação no produto interno bruto do país. Em sentido contrário, agricultura e pecuária cresceram cada vez mais.

Quando as novas ferrovias que vão unir os campos férteis do Centro-Oeste aos portos do Norte começarem a funcionar, a exportação brasileira vai explodir.

E o Brasil vai retomar sua vocação agrária, tantas vezes defendida pelos grupos de pensamento norte-americanos.

O mundo funciona para além das idiossincrasias brasileiras. Os comunistas brasileiros precisam, urgentemente, fazer estágio em Pequim. Vão voltar mais comunistas e adeptos de um capitalismo eficiente, objetivo, lucrativo e capaz de gerar recursos para financiar a pesquisa e tecnologia.

Não há reforma da previdência na China, porque não há previdência, Cada um cuida de si.

Nos Estados Unidos não é muito diferente. Mas há emprego para todos, em um e outro país.

É preciso perceber o que acontece no mundo organizado. E entender que o Brasil caminha, a passos largos, para a insignificância. A dificuldade em decidir e romper com as amarras que impedem o crescimento econômico, condena o país a viver na periferia do mundo organizado.

No próximo mês, o Sr. Xi Jinping, poderoso presidente da China, deverá vir ao Brasil para participar do encontro dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Ele vai passear por Brasília, frequentar jantares, fazer discursos e fechar negócios com financiamentos concedidos por seus centros de financiamento. Naturalmente falará sobre a tecnologia 5G apesar dos olhos arregalados dos norte-americanos.

O Brasil é o país latino que tem o maior fluxo de comércio com a China. E já está no meio do conflito entre os grandes. É hora de abrir os olhos.

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