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fev 23 2020

ARTIGO: As retroescavadeiras da oposição

RUY FABIANO

O impeachment de Bolsonaro começou a ser engendrado antes mesmo de sua posse. O inconformismo da oposição com a derrota (sobretudo a oposição de esquerda, nos seus diversos matizes) ainda não cessou – e não há sinais de que venha a cessar.

A estratégia, no entanto, não está funcionando. Muito pelo contrário: ao considerar tudo o que vem do governo como erro – e, em alguns casos, até como crime -, a oposição acaba colhendo efeito inverso: o que é erro de fato, passível de crítica rigorosa e consistente, dilui-se no cipoal de acusações levianas.

Se tudo está errado, como diz a oposição (e parte da mídia que a chancela), por que os índices da economia melhoraram? Idem os que medem a criminalidade e o desemprego?

É claro que algo não bate. Quando não há razoabilidade no combate, os resultados são adversos. Tancredo Neves dizia que não se faz política com o fígado; quando o fígado comanda, o cérebro perde potência. Isso explica o insucesso da oposição, nestes um ano e três meses de governo Bolsonaro.

Nenhuma acusação pegou, idem as tentativas de escândalo e criminalização do governo. A veemência banalizou-se, tornou-se coreografia vazia. Impeachment é a palavra de ordem, mas, sem povo nas ruas, não acontece.

O PT, que, desde o governo Sarney, pediu o impeachment de todos os presidentes, devia saber disso. Os únicos que deram certo foram os de Collor e Dilma, pois, para além dos delitos de que foram acusados, tiveram contra si a opinião pública.

Bolsonaro até aqui não foi atingido em sua popularidade. As investidas de seus opositores – e não apenas no Congresso, mas também no STF – só consolidam o seu prestígio popular.
As habituais acusações de fascista, nazista, homofóbico, racista, entre outras, carecem de fatos concretos.

Sem eles, não passam de insultos. Até aqui nenhum ato discricionário foi praticado. O governo Bolsonaro tem sido o mais pressionado pelos outros dois poderes. Até nomeação para o terceiro escalão, tentou-se impedir, via Judiciário. No entanto, não perseguiu ninguém, nem investiu contra a democracia, ao contrário de Lula, que, dias atrás, voltou a lamentar não ter feito a regulação da mídia.

Às facções da esquerda, somou-se contra o governo a mais retrógrada e fisiológica porção do Congresso, o Centrão. Contrariado por não encontrar ressonância no Executivo a
seus pleitos (cargos, favores, barganhas), aqueles parlamentares – muitos dos quais eleitos na onda Bolsonaro – aliaram-se ao PT e adjacências no combate ao governo. Não estão acostumados com a austeridade.

Do Centrão, fazem parte os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, neste momento empenhados em implantar, sem qualquer respaldo legal, uma espécie de parlamentarismo branco, que usurpe poderes do Executivo e imponha a ingovernabilidade ao presidente da República.

Foi contra isso que o general Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, se insurgiu esta semana.

O palavrão que proferiu, em conversa privada que vazou, é quase uma expressão infantil diante do que a sociedade tem dito em relação ao Congresso. Por essa via, de trocar oposição por demolição, os adversários do governo apenas põem em prática a tática Cid Gomes: abdicar do racional e empunhar retroescavadeiras.

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