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jul 27 2018

ARTIGO: Constrangimento

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista

Caso curioso e emblemático dos tempos que correm aconteceu em Brasília. O candidato a governador do Distrito Federal Jofran Frejat (PR) estava muito bem colocado nas pesquisas de opinião – em primeiro lugar – com vaga garantida no segundo turno. De repente se levantou de sua confortável poltrona e renunciou à candidatura.

Declarou em alto e bom som que “não vou vender minha alma ao diabo”. Seu partido é presidido pelo notório Valdemar Costa Neto.

Um de seus principais apoiadores é o ex-governador José Roberto Arruda, que foi processado diversas vezes, já frequentou o xilindró e vive meio recolhido na capital da República.

Frejat não disse quem seria o diabo. Mas o que se sabe é que seus fieis colaboradores já estavam loteando o futuro governo antes mesmo de sua posse. Até antes de a campanha começar. O candidato teria pouca capacidade de organizar sua própria trajetória.

Não se trata de político noviço. O renunciante tem 81 anos, médico cirurgião, diversas vezes secretário de saúde do DF, deputado federal de quatro mandatos, um deles na Constituinte de 1988. Ou seja, não é um estreante, nem um ingênuo. Ostenta uma ficha limpa impecável.

Ele percebeu o tamanho da encrenca em que estava se envolvendo. Pulou fora e deixou em pânico os políticos tradicionais, que já estavam gastando por conta.

A velha política tenta se manter em vigor. O exemplo do ocorrido em Brasília é apenas pequena luz amarela que acende no tumultuado processo eleitoral brasileiro.

A campanha vai se iniciar na segunda semana de agosto, mas as chapas dos principais concorrentes ainda não estão completas.

Marina Silva não aceitou, por exemplo, a parceria com Romário, candidato ao governo do Rio. Não disse os motivos, apenas descartou a possibilidade de andar de mãos dadas com o ex-jogador de futebol.

Só os partidos ideológicos, de que é exemplo o PSOL, conseguiram completar a chapa e anunciá-la a seus seguidores.

Os grandes continuam a realizar jantares que entram pela madrugada, mas não conseguem o consenso.

Josué Gomes, empresário, filho do falecido José Alencar, vice de Lula por dois mandatos, não topou ser o número dois na chapa de Geraldo Alckmin.

O ex-governador de São Paulo conseguiu apoio do chamado centrão (DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade), o que lhe entrega um bom tempo de televisão e rádio, além de apoio importante no Congresso.

Na esteira das acomodações políticas, o presidente da Câmara Rodrigo Maia abandonou sua candidatura. Pretende se reeleger para a Câmara dos Deputados e permanecer na presidência da casa. As verdades estão aparecendo.

Ciro Gomes tentou de tudo, mas até agora não conseguiu nada. Não tem apoio do PSB, nem do Centrão. Ficou sozinho. Esbraveja contra Lula que, segundo ele, orientou Valdemar Costa Neto a se compor com o candidato do PSDB para que o voto de esquerda continue a orbitar em torno do Partido dos Trabalhadores.

É mais uma fonte de atrito para um candidato que gosta muito de falar e paga preço alto por esta mania.

Bolsonaro também falou muito e estacionou nas pesquisas de opinião. Não conseguiu agregar apoios, nem candidatos a vice.

No momento, as especulações indicam como candidatos a vice bolsonarista o príncipe Luis Phelippe de Orleans e Bragança, monarquista de sangue azul, e Marcos Pontes, o cosmonauta brasileiro.

A política brasileira, além de rasa, vive uma fase patética. Tudo isso vai tomar algum tipo de forma e tende a cair sobre nossas cabeças.

Os números revelados pelo IBGE nesta semana indicam a necessidade de profundas reformas nas políticas públicas nos próximos anos.

O Brasil está deixando de ser o país de jovens. Em pouco tempo será de idosos. A cegueira que acomete os candidatos não permite que eles avancem no enunciado de uma ideia. Qualquer ideia. Chega a ser constrangedor.

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