«

»

abr 19 2020

ARTIGO: O “fogo amigo” do DEM

RUY FABIANO

Os embates entre o governo Bolsonaro e a cúpula dirigente do DEM (Rodrigo Maia, à frente) têm pontuado a cena política, desde a posse, mesmo sem qualquer motivação ou fundo ideológico.

Todos, afinal, se definem como liberais, o que faria supor apoio entusiástico do partido ao projeto econômico de Paulo Guedes. Faria, mas não faz. Como se sabe, ideologia, em muitos casos, serve apenas de fachada para ocultar objetivos impublicáveis.

Na eleição de 2010, Lula, num comício em Santa Catarina, disse que era necessário “extirpar” o DEM, bani-lo da política.

Hoje, troca elogios com Rodrigo Maia e tornou-se um súbito admirador do até há pouco obscuro Luís Henrique Mandetta. Jamais alguém poderia imaginar que um dia o PT iria lamentar em público a demissão de um ministro do DEM. Pois é. Haja ideologia.

Getúlio Vargas dizia não ter amigo que não pudesse subitamente tornar inimigo – e vice-versa. Sobretudo vice-versa.

Bolsonaro jamais imaginou que por ali, pelo DEM, viriam (e continuam vindo) as maiores dores de cabeça de seu governo.

Afinal, foi o partido mais contemplado na composição ministerial, conquistando três importantes pastas: além da Casa Civil, com Onyx Lorenzoni, a da Saúde (que agora perdeu, com a demissão de Mandetta) e a da Agricultura, com Tereza Cristina.

Mesmo as eleições de Maia e Davi Alcolumbre, respectivamente às presidências da Câmara e do Senado, contaram com o apoio decisivo de Bolsonaro, induzido por Lorenzoni, hoje no Ministério das Cidades, a apoiá-los, como suposto fator de estabilidade política do governo.

O resultado tem sido inverso – e adverso.

Esta semana, pela primeira vez, Bolsonaro mencionou a conduta hostil de Maia, que, desde o início, tornou-se crítico obstinado do presidente, em cujo nome pediu votos para se reeleger deputado. Eleito, passou a criar as maiores dificuldades para a tramitação dos projetos do governo, mesmo os mais urgentes.

O projeto anticrime, do ministro Sérgio Moro, por exemplo, adormece numa comissão da Câmara, tendo por relator – e por indicação de Maia – o deputado Marcelo Freixo, do Psol, adversário ideológico de tudo quanto o ministro representa.

Se depender de Freixo, o projeto morre – e com esse objetivo está em suas mãos.

Maia não está só. Integra uma frente política, que reúne, entre outros, os governadores do Rio, Wilson Witzel, e de São Paulo, João Dória.

É uma frente de cunho fisiológico, alinhada ao Centrão e à esquerda, cujo objetivo, declarado é depor o presidente da República. Ou pelo menos implantar um parlamentarismo branco, que transferiria o poder para o Congresso – e para Maia.

A queixa principal dessa turma é a “desatenção” do presidente para com seus pleitos. E os pleitos são os de sempre: cargos no Executivo, para dar sequência ao imemorial processo de rapina do Estado.

Alguns ministros do STF – sobretudo os que possuem pedidos de impeachment no Senado – dão uma mãozinha nesse processo.

Roberto Jefferson, ex-deputado e conhecedor profundo da índole e das pretensões do Centrão (que já integrou e liderou), resumiu a ópera numa nota publicada esta semana no seu twitter:
Diz a nota: “Rodrigo Maia comanda uma conspiração do DEM contra Bolsonaro. Tem a seu lado Alcolumbre e governadores do partido. A eles, se somam os tucanos, todos preparando o jogo eleitoral de 2020 e 2022. Projeto de poder político. É o Brasil abaixo de tudo.”

Síntese e objetividade pra ninguém botar defeito.

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*