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jul 08 2015

ARTIGO: O FUTURO DA UNIÃO EUROPEIA

VITOR RAMALHO

A Grécia, chamada a referendar as propostas apresentadas pela União Europeia nas recentes negociações para um eventual novo acordo de financiamento, votou maciçamente contra.

O povo grego, martirizado por políticas cegas de austeridade que conduziram à queda de 25% do PIB, ao aumento da dívida para valores próximos de 180% e a uma taxa de desemprego de 26%, pronunciou-se pela defesa da dignidade.

Os responsáveis das instituições européias, desde os presidentes da Comissão e do Parlamento, até a alguns chefes de Estado e de Governo, como ocorreu como Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva, não se coibiram de tomar posição no referendo, defendendo as propostas apresentadas pela União Europeia ao Governo grego.

Indiferentes ao fato dos governos anteriores na Grécia, da Nova Democracia e do Pasok, terem sido coniventes com a falsificação das contas gregas à data da adesão à União Europeia e ao euro, com a cobertura da empresa Goldman Sachs, e não terem dado um passo, mínimo que fosse, para reformar as instituições do Estado, nomeadamente no domínio da cobrança fiscal, ousaram responsabilizar o Governo Grego que, este, está apenas há cinco meses no poder.

Para eles a realidade não é o que é, mas o que desejam que seja.

Em rigor, foram esta cegueira e insensibilidade que conduziram o povo grego a desacreditar nos partidos da alternância, a Nova Democracia e o Pasok, e a confiarem no Syrisa.

Do que tenho observado e visto, analisando as propostas e as contrapropostas que o Governo grego apresentou, não vejo nelas qualquer manifestação de radicalismo.

Aliás, na última reunião da ronda negocial, o que separava os negociadores de um e outro lado da mesa era uma verba pouco significativa para o que estava e está em jogo.

Foi essa constatação que levou o primeiro-ministro grego a correr todos os riscos políticos, demonstrando coragem e apresentando a proposta para a realização de um referendo.

Perante o resultado, parece óbvio que a União Europeia deve saber retirar consequências, não insistindo na exigência da regularização de uma divida que, toda a gente sabe, não pode nem vai ser paga nos termos em que existe.

A dívida é impagável e isso não é culpa do atual governo grego.

O bom senso deveria conduzir agora à renegociação da dívida, através de um terceiro resgate, com alteração dos prazos de maturidade e ao perdão parcial dela.

A menos que se queira deixar sair a Grécia do euro, com todas as consequências que daí resultarão, de natureza sistemática, com impacto negativo na União Europeia e desde logo em Portugal.

O futuro da União Europeia agora está em causa. Não creio que a irresponsabilidade dos dirigentes europeus chegue ao ponto de, como Cavaco Silva, não verem o que importa salvaguardar para a União Europeia neste mundo global.

* Vítor Ramalho é o secretário-geral da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (do site Portugal Digital)

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