ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista.
Em 1972, caminhoneiros no Chile pararam o país por 26 dias. Desorganizaram totalmente a produção e o consumo. Um ano depois repetiram a ação.
As Forças Armadas chilenas tinham a tradição de não intervir na política, pois o corpo militar era constituído de profissionais, como se dizia na época.
No dia 11 de setembro de 1973, o Palácio de La Moneda, em Santiago, foi impiedosamente bombardeado. O presidente Allende morreu e o general Augusto Pinochet, Comandante-Chefe do Exército, assumiu o poder. E nele permaneceu por 17 anos.
Em 1964, o governo João Goulart estava cercado por greves e reinvindicações. Havia o chamado dispositivo militar que garantiria o exercício do poder pelo presidente civil, que tratava na época de assuntos explosivos, entre eles a reforma agrária.
Quando as tropas do general Mourão Filho saíram de Belo Horizonte rumo ao Rio de Janeiro, o dispositivo militar desabou. Jango voou de Brasília para o exílio. As garantias de não intervenção militar foram rapidamente esquecidas.
O general Castello Branco, então Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, tomou posse no Palácio do Planalto. Tudo muito rápido e eficiente, tanto no Chile quanto no Brasil.
Brincar de intervenção militar não é atividade de quem tem juízo. A dependência de transporte rodoviário é característica da maioria dos países da América do Sul.
Aqui, o Ministro de Viação e Obras Públicas, Juarez Távora, no início do primeiro governo militar, decidiu investir em rodovias e extinguir ferrovias. Chegou a retirar trilhos de rotas estabelecidas.
Havia, por exemplo, ligação ferroviária entre Rio e São Paulo. Hoje não existe mais.
Desde os anos 70, quando houve os dois choques do petróleo, filas em postos de combustíveis se tornaram realidade.
Em 1973, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) elevou em cerca de 400% o preço do barril. E 68% do petróleo consumido no Brasil eram importados.
O governo de Ernesto Geisel proibiu o funcionamento dos postos de combustíveis das 23h às 6h, de segunda a sexta-feira, e o fechamento total aos sábados, domingos e feriados.
Após a primeira crise do petróleo, surgiu no país o projeto para criação de um combustível 100% brasileiro, imune às oscilações do mercado internacional.
O Programa Nacional de Álcool (Proálcool), instituído em 14 de novembro de 1975, conseguiu desenvolver o primeiro biocombustível comercial do mundo, o álcool hidratado à base de cana-de-açúcar, atualmente chamado de Etanol.
Mas só em maio de 1979 os primeiros 15 postos com o novo combustível começaram a funcionar, junto com os primeiros carros movidos a álcool.
Em 1986, 90% dos carros novos eram movidos pelo combustível nacional, que recebeu uma série de incentivos, entre eles a cobrança de IPVA mais baixo. Mas, a queda no preço do petróleo e o aumento no preço do açúcar no mercado internacional provocou um desequilíbrio na produção do Etanol.
Com os preços do açúcar subindo no mercado internacional, os produtores passaram a utilizar a cana para produzir açúcar e não álcool. Ocorreram diversas interrupções no abastecimento do mercado. O combustível deixou de ser confiável.
Petróleo é riqueza e maldição. O Brasil, grande produtor, não tem capacidade de refino adequada ao consumo. Importa muito diesel e até álcool dos Estados Unidos.
Melhor seria acabar com o monopólio do refino da Petrobras e permitir ao particular, brasileiro ou estrangeiro, entrar no segmento.
A petroleira poderia se comportar como qualquer multinacional do ramo, mas teria que competir com adversários formidáveis. A concorrência equilibraria os preços.
Hoje a Petrobras funciona dentro do país como uma multinacional protegida por um monopólio que não defende a população. É o pior dos mundos.