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set 22 2018

ARTIGO: Olho no vice

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista

A situação de confronto aberto assusta a quem acompanha a política brasileira. Raros foram os momentos em que esquerda e direita estiveram frente a frente.

Em todas elas, o lado conservador venceu, seja no episódio da deposição de Jango, no impeachment de Dilma Rousseff ou na intentona comunista de 1935.

A briga dos antagônicos não auxilia nenhum dos dois lados. Está em curso uma operação para viabilizar a candidatura de centro e interromper a já chamada marcha de insensatez.

O brasileiro fará a opção por intermédio do voto. O pessoal do PT trabalha bem para esconder seus problemas. Ninguém fala dos escândalos da Petrobras, da roubalheira generalizada nas administrações realizadas pelo partido (o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ter conta não declarada no exterior).

O pessoal de Bolsonaro não tem muito a oferecer. Apenas a presença do economista Paulo Guedes, formado em Chicago, na escola ultraliberal da economia, a mesma que norteou os caminhos econômicos da ditadura de Pinochet, no Chile.

Não é um destino de que os brasileiros devam ser orgulhar. Depois de trinta anos da outorga da Constituição de 88, o país revisita seus piores pesadelos.

Confronto semelhante provocou a instalação dos governos militares que destruiu a estrutura constitucional criada pela Carta de 1946 e obrigou a convocação da nova Constituinte que teve a presidência de Ulysses Guimarães. Mas, o tempo não passou. Os problemas de ontem permanecem hoje.

O cenário político é mais assustador porque no Brasil a política é volúvel. Nada é definitivo. Nem o passado. Tudo muda a todo tempo. E os presidentes aqui renunciam, ficam doentes ou são impedidos com relativa frequência.

Por essa razão, é importante colocar um olho em seus substitutos imediatos. Jair Bolsonaro anunciou, após negociações frustradas com a advogada Janaína Paschoal e sondagens ao príncipe Luiz Phillipe, descendente da família imperial, a escolha do general da reserva Hamilton Mourão como integrante de sua chapa.

Antonio Hamilton Martins Mourão ingressou no Exército em 1972, na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no Rio de Janeiro. Cumpriu missão de Paz em Angola e foi adido militar do Brasil na Venezuela. Ele também comandou a 6ª Divisão de Exército e o Comando Militar do Sul.

Nos últimos anos, Mourão passou a adotar um perfil linha dura semelhante ao de Bolsonaro. Em seu último discurso como general no Salão de Honras do Comando Militar do Exército, no fim do ano passado, chamou o coronel Carlos Brilhante Ustra de “herói”. Este foi o chefe do DOI-CODI quando foram registradas 45 mortes e desaparecimentos de presos políticos, segundo a Comissão Nacional da Verdade.

Manuela D`Ávila, candidata à vice-presidência da República, nasceu em agosto de 1981, em Porto Alegre. Milita desde 2001 no Partido Comunista do Brasil, aquele mesmo que organizou a Guerrilha do Araguaia no final dos anos sessenta do século passado.

Ela não tem nada a ver com aquele movimento. Seu discurso tem forte tom universitário, próprio de grêmio estudantil, repleto de chavões da esquerda e apelos populistas. Manuela renunciou à candidatura própria para aderir ao PT e compor a chapa de Fernando Haddad.

Natural de Porto Alegre, começou sua carreira política no movimento estudantil e depois ingressou na política partidária. Tornou-se a vereadora mais jovem da história da capital gaúcha em 2004.

Foi eleita deputada federal em 2006, reeleita em 2010. Exerce atualmente o mandato de deputada estadual em seu estado. Este é o currículo da vice-presidente da República no eventual governo biunívoco de Fernando Haddad (dele e de Lula).

O pesadelo nacional é escolher entre dois titulares complexos e dois substitutos ainda mais complicados. Trata-se de bordejar o abismo. Nos dois lados.

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