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set 28 2018

ARTIGO: Os economistas

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista.

Na Primeira Guerra Mundial, o primeiro ministro francês, Georges Clemenceau, percebeu que o comando do Exército sacrificava milhares de soldados em ataques frontais contra as trincheiras alemãs sem qualquer resultado positivo.

Ele promoveu mudanças e cometeu a frase que entrou para a história: “A guerra é importante demais pra ser deixada na mão dos militares”.

A partir daí, as táticas se tornaram mais eficientes e a França venceu a guerra.

No Brasil, um grupo de profissionais costuma alardear dispor de poderes especiais para solucionar os grandes problemas nacionais. São os economistas. Eles prometem a salvação eterna. Raramente entregam.

Dílson Funaro, já falecido, exerceu a função de Ministro da Fazenda entre agosto de 1985 e abril de 1987. Implantou o plano de estabilização financeira, chamado de Plano Cruzado, que naufragou um ano depois.

Foi mais longe: assinou a moratória unilateral brasileira. O Brasil suspendeu os pagamentos dos débitos de sua dívida internacional. O Banco do Brasil, no exterior, ficou sem recursos. O crédito internacional secou. A crise levou mais de uma década para ser superada.

Depois da destruição de credibilidade brasileira fora do país, e sob inflação elevadíssima, o então presidente Sarney escolheu o economista Maílson da Nóbrega para o Ministério da Fazenda.

O país já tinha passado pela administração de Bresser Pereira, que também cometeu um plano de recuperação, que ganhou seu nome, Plano Bresser. Como sempre deu tudo errado.

Maílson da Nóbrega foi mais humilde. Disse que pretendia produzir uma política de arroz com feijão, ou seja, sem grandes invenções.
O Ministro Maílson da Nóbrega assinou, afinal, um acordo com o Fundo Monetário Internacional.

Ele havia declarado que faria uma política sem soluções miraculosas, realizando somente ajustes pontuais para evitar a hiperinflação. No entanto, em 1987 a inflação acumulada alcançou 415,87%. Um ano depois chegou a 1.037,53%.

Por causa disso, desabou sobre a cabeça dos brasileiros mais um plano heterodoxo, o plano verão. Também não deu certo.

O então presidente Fernando Collor chegou ao pináculo da glória. Nomeou a economista Zélia Cardoso de Mello, sua prima, para o Ministério da Fazenda.

No primeiro dia de governo, feriado bancário, o governo decretou o confisco de poupança de todos os brasileiros. Cada cidadão só podia dispor de cinquenta cruzeiros. A inflação depois de tantos planos estava na incrível marca de 1.800% ao ano. O confisco segurou a inflação por algum tempo, mas começou a vazar por todos os lados.

O excepcional desgaste do governo auxiliou bastante na evolução do pedido de impeachment de Fernando Collor. O PT apoiou a decisão. Não enxergou nela nenhum golpe.

Zélia Cardoso de Mello, ainda no governo, viveu explosivo namoro com Bernardo Cabral, então Ministro da Justiça. Estavam em Paris quando ele alegou que precisava tratar de dentes no Rio de Janeiro. Viajou e não mais voltou.

Depois, a ex-ministra se apaixonou por Chico Anysio, o humorista. Os dois se casaram, tiveram dois filhos. Veio a separação. Zélia vive com o casal de filhos, de 25 e 23 anos, confortavelmente em Nova Iorque. Está muito bem de vida.

No governo Itamar Franco, que sucedeu Fernando Collor, o então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, reuniu um conjunto de economistas que criou o plano real, o mais bem sucedido até hoje.

A dívida externa sumiu. Apareceu a monumental dívida interna, que torna os juros elevadíssimos no Brasil. Os bancos emprestam para o governo a saborosas taxas de interesse.

Entre julho de 1965 e junho de 1994, a inflação no Brasil atingiu 1,1 quatrilhão por cento. Inflação de 16 dígitos, em três décadas. Ou precisamente, um IGP-DI de 1.142.332.741.811.850%.

O brasileiro perdeu a noção disso porque foram realizadas quatro reformas monetárias no período e em cada uma delas foram descartados três dígitos da moeda nacional. Um total de 12 dígitos no período. Caso único no mundo, desde a hiperinflação alemã dos anos 1920.

Alguns dos envolvidos nesta história de planos destinados à salvação nacional deixaram o governo e se tornaram milionários. A moral da história é que economistas são muito bons de conversa e de encantar o público. A prática desmente a propalada genialidade.

A frase de Clemanceau pode ser adaptada no Brasil. Aqui a economia é assunto muito sério para ser entregue aos economistas. A solução é votar no candidato à Presidência que apresente melhores projetos. O resto é ficção.

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