Já estava deitado, dez da noite, quando me veio a visão clara de um fato da minha infância, há 60 anos. Conto a vocês – e vocês adoram uma fofoca.
Na Cidade Baixa de Salvador, todo início de noite, as mães botavam cadeiras na calçada. Ficavam conversando, esperando os maridos e vendo os filhos nas brincadeiras perigosas de rua.
Na casa da frente, morava uma mulher elegante. Algumas vezes por semana ela recebia a visita de um homem idem.
O homem e a mulher estavam dentro da casa, quando receberam outra mulher elegante, um pouco mais velha. Esta entrou de repente, bateu a porta e começou armar o maior barraco da Bahia.
Era a esposa do cara. Descobriu o endereço e foi bater na amante dele. Testemunhei o maior quebra-pau da história. Uma barulheira doida.
Depois de alguns minutos, o casal oficial, casado e de aliança, saiu apressado. A outra mulher, presumivelmente em péssimo estado, ficou em casa. Mas se mudou pra sempre, no dia seguinte.
Lembro da frase forte da minha mãe quando ouvimos um barulho mais forte. Cecília Riella falou, com grande classe – e a gente se arrepiou:
-“Epa, agora ela jogou a cristaleira cheia no chão!”.
Vocês já ouviram o barulho de uma cristaleira lotada de cristais se espatifando? Eu estava lá. É inesquecível. Parece o barulho de estrelas se chocando no universo. (RENATO RIELLA)
