MARCELO TORRES
– Sabia que Conic não é uma sigla?
– Não? Mas tudo aqui não é sigla?
– Quer dizer, que é uma sigla, é, mas não é sigla de endereço, entende?
– Não, não entendi.
– Veja só: aqui em Brasília não é tudo dividido em setor?
– É.
– Há o Setor de Diversões Norte, que é o SDN, onde fica o Conjunto Nacional.
– E o Setor de Diversões Sul…
– Que é o SDS e é este onde nós estamos.
– Ah, quer dizer que estamos no Setor de Diversões Sul!
– Pois é, o SDS se resume a este prédio que chamam Conic.
– E…?
– E… pela lógica da cidade, isto aqui era pra ser chamado ou SDS ou Setor de Diversões Sul, como falamos Setor Bancário Sul ou SBS e Setor Comercial Sul ou SCS.
– Mas então de onde vem o Conic?
– Bom, Conic era o nome da empreiteira que construiu este prédio.
– Sério?
– Sério. A razão social da firma era Construções e Incorporações Comerciais Ltda – Conic.
– Olhaí, de qualquer jeito é sigla também.
– É. Mas não é uma sigla em função de setor ou quadra, mas sim por uma razão inusitada.
– A criatura recebeu o nome do criador.
– A construção recebeu o nome da construtora.
– Mais uma curiosidade de Brasília.
– Pois é, no local, à época, não havia nada além de uma placa com o nome Conic. E virou referência. As pessoas falavam “Depois do Conic” ou “Antes do Conic”. Era a referência mais visível.
– Hoje é este lugar invisível.
– Invisível aos olhos da cidade oficial, a cidade do carimbo. Mas isto aqui é a alma encantadora da cidade.
– Aqui tem de tudo.
– Pois é, tem igreja, prostíbulo, livraria, farmácia, partido político, cinema.
– Boate, teatro, bar, faculdade, restaurante.
– E putas, pastores, fiéis, drogados, traficantes, comerciantes, tatuadores, o diabo.
– Céu e inferno junto.