O senador Renan Calheiros, investigado na Lava Jato, disse ontem, em entrevista à BBC, que o ex-deputado Eduardo Cunha, preso há um ano, continua exercendo influência no governo Temer e que a indicação do deputado Carlos Marun para a Secretaria de Governo é um exemplo disso.
” O Eduardo Cunha exerceu muita influência na formação do governo. Ele continuou a dar as cartas mesmo depois de preso. A Justiça teve que encurtar a sua permanência em Brasília, onde ele passou os últimos 30 dias para fazer a defesa do presidente Michel Temer de corpo presente. Ele saiu da condição de alguém cujo silêncio estava sendo administrado para alguém que admitiu fazer uma delação, e depois recuou para fazer a defesa do presidente.”
Renan diz que a nomeação do (deputado Carlos) Marun é a continuidade desse processo. “Como eu disse, é uma coisa corajosa do presidente. Mas pouco criativa, porque continua a prestigiar intermediários. Ora, foi o Marun que, recebido em Curitiba por Cunha trouxe o nome do deputado Osmar Serraglio (PMDB-RS), que foi nomeado ministro da Justiça, depois substituído por este que está no cargo,Torquato Jardim.”
Para Renan, Marun seria um representante de Cunha no governo.
” Mais um. No ministério. Porque ele (Cunha) remontou (em maio de 2016) aquelas lideranças ligadas a ele. Ele nomeou o (então) líder do governo na Câmara (André Moura, do PSC-SE). Remanejou, remontou os líderes do governo no centrão. O que lá atrás possibilitou o recebimento do impeachment (de Dilma Rousseff, confirmado pelo senado em agosto de 2016) e a montagem do governo.”
Renan afirmou que Cunha é o principal advogado de Temer. ” Ele passou 30 dias aqui (em Brasília) e fez vários depoimentos na Justiça defendendo Michel Temer. Negando que Michel tivesse participação nas irregularidades. E pediu à Justiça para continuar em Brasília. A Justiça é que negou a pretensão dele de continuar cumprindo pena aqui. Então, com essa remontagem das lideranças no Congresso, e com a continuidade da influência no governo, ele voltou à condição de principal advogado do presidente.”
Fonte: André Shalders/BBC
