«

»

jul 25 2014

ELEIÇÕES NO BRASIL, A VONTADE DE MUDAR

ANTONIO ACHILIS SILVA

A sabedoria política creditada aos mineiros – devidamente sustentada na história – reza que política é como nuvem: você olha e vê uma situação, olha de novo e consegue perceber outra. Tenho que levar esse dogma em conta quando me arrisco a uma leitura do cenário político-eleitoral no Brasil.

A seguir, alguns elementos objetivos que ajudam a acompanhar os acontecimentos, até para melhorar o trato com as subjetividades.

As pesquisas só servem para orientar os estrategistas de campanha e alimentar as conversas de botecos. Nesta altura não indicam quem vai ganhar ou perder, mas indicam aos estrategistas onde precisam intervir para segurar, redirecionar ou incrementar uma tendência.

Embora seja arriscado, aceita-se que teremos segundo turno. Ainda não começou a campanha na tv, onde Dilma tem um latifúndio, mas seus estrategistas devem estar muito preocupados em segurar Aécio, antes que ele alcance a condição de favorito. O tiroteio entre eles já começou e isso aqui pode virar uma faixa de gaza eleitoral. (No meio do caminho já tem um aeroporto – história cabulosa, que virou denúncia na Folha de São Paulo. Aécio teria construído um aeroporto para beneficiar a fazenda da família, no município de Cláudio- Minas Gerais e esse é o primeiro embate do tiroteio.)

Para um melhor entendimento, penso que o candidato a ser mais observado, neste momento, é Eduardo Campos, terceiro colocado. Ex-governador de Pernambuco, ele está tacitamente escalado para morder um pedaço do vasto patrimônio de votos que o PT tem no nordeste, tarefa essencial para o sucesso de Aécio Neves, que se mostra competitivo no sul/sudeste.

Os números das pesquisas surgem sem solavancos, com pequenas oscilações, como é de se esperar nestes tempos. Daqui a pouco os eleitores começam de fato a deliberar sobre seu voto e aí as pesquisas devem ganhar outra dinâmica. No entanto, é em torno dos números de Eduardo Campos que surgem sinais e revelações.

Campos não é conhecido fora do nordeste e por isto tem percentuais modestos no seu terceiro lugar. O surpreendente está na simulação do segundo turno, quando ele e Dilma são apresentados como alternativas. Eduardo Campos tem índices um tanto enlouquecidos, considerando-se o seu quase anonimato em vastas e populosas regiões do país.

Certamente os estrategistas estão excitados com estes dados e me arrisco a enxergar aí um elemento de grave preocupação para a candidatura oficial: a vontade pura e simples de mudar. Mesmo sem condenar o governo Dilma, a possibilidade de um quarto mandato para o PT e seus aliados dá coceira em muita gente que quer simplesmente mudar, e preferir um desconhecido.

O ex-presidente Fernando Henrique disse que padeceu desse fenômeno, que chamou de “fadiga de material”, apropriando-se de uma expressão pertinente à engenharia, que identifica um fenômeno de desgaste capaz de derrubar viadutos.

Por esta e por outras razões, o desejo de mudança está aí e já foi bem identificado pelas pesquisas de interesse dos competidores. Certamente é por isto que a campanha de Aécio usa o mantra “muda Brasil”e a da presidente propõe o “muda mais”.

A campanha eleitoral na TV está chegando e, como sempre, vai carregar no emocional, uma vez que pouco importam os programas de governo – a maioria dos eleitores sempre decide emocionalmente, com as percepções subjetivas que tem dos candidatos (e é assim também que escolhe uma roupa, uma escola para o filho ou a namorada – que o digam os marqueteiros. São escolhas com cargas emocionais determinantes.)

Creio que isto se deve à herança da monarquia, que se mantém depois de atravessar o Atlântico, vinda de Portugal. Do lado de lá, os portugueses parece que se livraram da monarquia.

No Brasil, ao que parece, a matriz de raciocínio monárquico permanece, levando-nos a escolher pessoas – em vez de votar em conceitos, em projetos estruturados de governo e nas circunstâncias dos candidatos, votamos nas emoções, na aparência física, no discurso me-engana-que-eu-gosto. E vai ser assim enquanto não tivermos reforma da nossa cultura política e um regime parlamentarista bem construído.

Antônio Achilis Silva, jornalista brasileiro, é especialista em Gestão Estratégica da Informação (do site Portugal Digital).

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*