Em um espaço seguro e amoroso, onde o julgamento não tem vez, as trabalhadoras do campo falam. Uma celebra a formatura do neto. A outra se revolta diante do seu próprio divórcio. Uma jovem chora a relação conflituosa com a mãe, dependente química. Todas ouvem, acolhem, respeitam, compartilham. O relato de experiências semelhantes traz uma nova perspectiva para quem se sente perdida diante dos seus problemas.
Ao final, elas se abraçam, cantam e dançam. Respiram aliviadas como quem tira um peso das costas. E termina, assim, mais uma roda de Terapia Comunitária Integrativa (TCI). Desde junho de 2022, o projeto da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) leva apoio psicológico a cerca de 80 mulheres da zona rural. As sessões quinzenais são feitas em São Sebastião, PAD-DF, Rio Preto, Vargem Bonita e Itaquara.
A TCI é uma prática genuinamente brasileira. Foi criada pelo psiquiatra Adalberto Barreto, que, trabalhando em uma comunidade carente do Ceará, incentivava as pessoas a falarem sobre suas dores como forma de encontrar a solução dos seus problemas. “É um método muito eficaz, que pode ser aplicado por qualquer profissional, sem a necessidade de ter uma formação em psicologia”, afirma Maria Bereza, assistente social da Emater-DF.
As sessões organizadas pela empresa pública são comandadas por 12 terapeutas voluntárias formadas no método, que atuam como facilitadoras das conversas. “A premissa da terapia comunitária é: se tem problema na roda, tem solução também”, ensina Maria. “No momento em que a pessoa fala da sua dor, ela pode encontrar outra que tenha passado por uma dor parecida. E que fez algo para superar aquela situação difícil”.
A terapia abriu os olhos de Fernanda para a busca por uma carreira. A jovem começou a fazer cursos voltados para administração e pedagogia e já está matriculada para retomar os estudos no próximo ano. “Vou concluir o ensino médio e me tornar professora. Porque esse é o meu sonho. E se outras mulheres que passaram por histórias parecidas com a minha conseguiram, eu também vou conseguir”, garante a jovem.
A profundidade que as sessões de terapia comunitária alcançam impressiona a terapeuta Fernanda Ramos Martins. Voluntária do projeto há um ano, ela se surpreende com os resultados das rodas. “As mulheres rurais conseguem falar de suas dores e traçar estratégias para superá-las de forma muito pragmática”, avalia. “O problema existe e elas estão lá para buscar a solução. É descomplicado”.
A terapeuta ressalta que, no campo, a vivência de outras mulheres costuma ser mais valorizada do que no meio urbano. “Para elas, basta conhecer uma história de superação para que passem a acreditar na mudança de suas histórias”, observa Fernanda. “Essas mulheres se fortalecem com as experiências umas das outras”.
Fonte: Agência Brasília – Carolina Caraballo
Foto: Lúcio Bernardo Jr