Só os ingênuos se surpreendem com o presidente Bolsonaro. Ele está fazendo tudo o que prometeu em campanha, como compromisso com seus eleitores.
Agora, anunciou que vai tirar o oxigênio das universidades públicas, principalmente na área de Humanas, tendo citado especificamente os cursos de Filosofia e Sociologia.
Alguns criticam Bolsonaro pelo preconceito contra esses setores da universidade brasileira. Na verdade, ele pode ser criticado pela generalização – não pelo exagero.
Haverá núcleos de Filosofia e Sociologia de grande utilidade para a cultura brasileira, mas essas áreas reúnem, geralmente, o que há de mais surreal na péssima universidade pública brasileira.
Bolsonaro deu choque elétrico na Lei Rouanet, cortou abusos criminosos da Bolsa Família, está detonando MST e ONGs de viés extremamente esquerdista, vai eliminar a porralouquice nos testes do Enem e assim seguirá, fiel ao que prometeu.
O presidente da República e grande parte dos brasileiros sabe que a universidade pública se perdeu. O maior exemplo, assustador, vem da UFRJ, que se contaminou na desonestidade disfarçada de comunismo.
Na Universidade de Brasília, os exemplos são horríveis.
Vi recentemente o caso de uma brasiliense, que fez dois cursos de graduação em universidade dos Estados Unidos de renome mundial. No Brasil, a burocracia impediu a validação dos dois diplomas. Triste, ela percebeu que estava sem nível universitário no seu país.
Resolveu fazer vestibular numa faculdade de Brasília. Defendi ardentemente que tentasse na UnB, onde tenho laços históricos e, além do mais, seria de graça. Esqueci do cheirinho de maconha!
A moça resolveu visitar a Universidade de Brasília algumas vezes, conduzida por pessoas amigas. Depois de alguns dias, sentenciou: “É uma vergonha. Isso não é universidade. Só bagunça, sujeira, pessoas suspeitas, tudo de ruim”.
Fez vestibular no IESB e está muito feliz, já quase recebendo o diploma brasileiro, em condições de dignidade comparáveis à universidade americana.
Há cerca de 20 anos, um dos meus filhos passou no curso de Administração da UnB. Começou a estudar e, meses depois, deixou de frequentar as aulas. Diagnosticou: “É uma bagunça”. Fez vestibular na Universidade de Santa Catarina e se formou por lá. Em Floripa, não era uma bagunça – e ainda tinha a praia!
Tenho outro exemplo chocante, envolvendo jovem pesquisador da UnB. Este fez doutorado em importantíssima universidade dos Estados Unidos. Voltando ao Brasil, decidiu pedir demissão numa estatal, para ganhar um terço do salário como PhD da Universidade de Brasília.
Durante alguns anos, elevou o nome da UnB no ranking mundial, publicando artigos científicos nas principais revistas especializadas do mundo.
No ano passado, este destaque da ciência brasileira desistiu da nossa universidade. Decepcionado com tudo, pediu licença de três anos e está atuando fortemente na FGV. Produz bastante e tem seu trabalho reconhecido.
Posso continuar citando exemplos? Vamos lá.
Há cinco anos, sou um dos mais atuantes diretores do Sinfor – Sindicato da Indústria da Tecnologia do DF. Nossa luta anual é feita, inutilmente, na Fundação de Apoio à Pesquisa do GDF, que tem orçamento de R$ 300 milhões para apoiar projetos de inteligência.
Esta FAP vive há décadas dominada pela área acadêmica (principalmente UnB) e só consegue liberar anualmente cerca de R$ 60 milhões, destinados a projetos de laboratório, que quase nunca retornam ao mercado, para aplicação no mundo real.
Vou contar só mais uma.
Na década passada, ganhei uma grana legal fazendo trabalho de marketing na Finatec, uma agência criada dentro da UnB para vender consultorias de inteligência na área de ciência e tecnologia. Meu Deus, a Finatec é um desperdício, com projetos maravilhosos que se perdem dentro daquele prédio de três andares.
Vi na Finatec o protótipo de uma mini-usina hidrelétrica, a ser instalada em pequenos rios, produzindo energia para fazendas e pequenas povoações. Seria fantástico, se esta invenção fosse útil à sociedade. Mas não entrou no mercado. Deve ter morrido como protótipo.
Bolsonaro tem razão. Deve existir algum número de ações práticas nas universidades, a serem aproveitadas. O dinheiro público precisa identificar os projetos viáveis, reconhecidos como úteis ao mercado e à sociedade. Chega de lero-lero.
Mas a maioria do mundo universitário público vive para consumo interno, atrás do Muro de Berlim – que insiste em permanecer em pé, inacessível ao povo livre do Brasil. (RENATO RIELLA)