RONALD DE CARVALHO
“Getúlio” é um filme honesto, bem dirigido e melhor interpretado.
O diretor João Jardim não se preocupa em mostrar um Getúlio “ Pai dos Pobres” ou um Lacerda apenas como a caricatura do corvo da direita entreguista.
Fica claro que o Catete era a sede de uma quadrilha, onde, possivelmente, Getúlio fosse inocente.
Está transparente, também, a dúvida se a bala que Lacerda diz ter atingido seu pé foi uma farsa para que tirasse proveito político.
No filme “Getúlio”, a História não é contada pelos vencedores.
O velho ditador, que rasgou duas Constituições, é perfeitamente retratado, mas, também, sua angústia de rasgar pela terceira vez, e dar ao Brasil um banho de sangue fica inequívoca em cada espectador.
Parece, porém, que a morte, em 24 de gosto de 1954, só se materializou quando Getúlio, efetivamente, constatou que aquela bala era a única porta de incêndio que ele tinha para descer do terceiro andar do Palácio do Catete.