Íntegra da entrevista do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, ao Rodovias&Vias
Rodovias&Vias: O senhor é conhecido como gestor arrojado, sob o prisma de ampliar a presença do estado via prestação de serviços por meio de pesados investimentos públicos. Porém, antes de tudo, houve uma grande preparação do ponto de vista de reequilíbrio das contas públicas, com responsabilidade e transparência. Como foi esse processo?
Ibaneis Rocha: Eu não gosto muito de falar do rombo financeiro que encontramos no governo, embora fosse bilionário, porque fui eleito exatamente para resolver esses problemas, embora este especificamente tenha sido escondido até durante o governo de transição. Nos primeiros meses de gestão fizemos uma readequação dos gastos e investimentos e aos poucos fomos encontrando saídas, reescalonamos dívidas e melhoramos a eficácia na captação financeira. Não tem mágica. É trabalho. Para fazer uma gestão da maneira que eu queria, resgatar o Distrito Federal daquela situação modorrenta em que muito pouco acontecia – é preciso lembrar que havia até um viaduto caído no chão da capital tombada no Brasil, entre várias outras obras paradas – era preciso ter uma nova postura diante das contas públicas. Ao mesmo tempo, fomos elaborando os projetos do que faríamos, do que a cidade precisava. E começamos exatamente pelas muitas obras que estavam paradas.
Ibaneis Rocha: Minha relação com a Câmara Legislativa é muito boa. Para se ter uma ideia conseguimos ampliar a nossa base de apoio com filiações novas para o MDB e tenho mantido um diálogo respeitoso até com a oposição. Os parlamentares da oposição são eleitos exatamente para fiscalizar o governo e por isso eu faço questão de mostrar aos deputados o quê e o porquê de fazer determinadas coisas. Há diálogo, eu não passo por cima e respeito a todos na mesma proporção em que eles me respeitam. Não há espaço para qualquer ataque pessoal entre nós. Um projeto importante para o governo é discutido em minúcias com a Câmara Legislativa para quem nós procuramos mostrar da importância de determinada ação. Eu acredito que temos nos saído muito bem nessa administração, tanto eu quanto os deputados distritais. Na área federal também não tenho problemas e conto com o trabalho dos parlamentares, respeitando a aplicação das verbas destinadas por eles exatamente nas áreas em que escolhem. Muitas vezes eu peço que eles destinem verba para determinado projeto e tenho recebido apoio. É uma boa interlocução.
Rodovias&Vias: A moderna administração pública prevê uma série de responsabilidades adicionais, implementação de políticas ESG e compliance, que inclusive, são elementos excludentes para a captação de recursos junto à instituições financiadoras. Como o senhor obteve êxito neste sentido?
Ibaneis Rocha: Nós temos procurado acompanhar essas mudanças com firmeza. Muitos dos nossos projetos dependem do cumprimento dessas políticas de controle, mas isso não impede que a gente invista no desenvolvimento da cidade. Cumprimos todos os protocolos sem abdicar dos nossos propósitos. Tem dado certo.
Rodovias&Vias: O senhor parece ter apostado na capacidade executiva do DER-DF, um pouco até na contramão de instituições análogas, em outros estados, que têm privilegiado um viés mais voltado à fiscalização e terceirização da atividade fim. Como nasce esta estratégia dentro do governo e como o senhor avalia a performance?
Ibaneis Rocha: O DER tem uma história de cumplicidade com o Distrito Federal, esteve envolvido em importantes obras nas cidades e mostra uma ação firme quando é chamado a intervir. Várias obras são feitas diretamente pelo departamento, principalmente as mais urgentes, o que economiza tempo. Outras são feitas por empresas contratadas por licitação, mas sob a orientação e fiscalização do DER. Eu acredito no servidor público, advoguei para sindicatos por muitos anos e sei a força de trabalho e o compromisso que eles têm. No governo, é preciso dosar a participação de todos para que o benefício chegue mais rapidamente à população, que é o nosso objetivo maior.
Rodovias&Vias: O DF tem recebido algumas obras de alto impacto, não apenas sob a perspectiva de melhoria viária, mas de melhoria na mobilidade e na qualidade de vida em geral, com intervenções pesadas em melhorias de infraestrutura, atualizando e até ampliando o acesso a serviços básicos. Até que ponto esta é uma atuação direta em um grande problema, de atacar as desigualdades sociais?
Ibaneis Rocha: A nossa ideia é privilegiar o transporte coletivo. Por isso estamos ampliando o número de faixas exclusivas para ônibus nessa atualização da infraestrutura, assim como mais do que dobramos o número de Unidades de Pronto Atendimento (UPA) – e vamos fazer mais três – já estamos construindo mais quatro hospitais, muitas Unidades Básicas de Saúde, creches, fazendo novas escolas e ampliando em mais de 500 salas de aula, construímos mais dois restaurantes comunitários, centenas de quilômetros de calçadas, em obras que são feitas em todas as regiões do DF, procurando beneficiar o maior número de pessoas possível. Também já temos a segunda maior malha de ciclovias do Brasil e estamos planejando mais 200 quilômetros. A população mais carente é atendida com o maior programa de segurança alimentar do país, com mais de cem mil famílias atendidas pelo programa prato cheio, 70 mil com o cartão gás e muitas outras ações que ajudam as pessoas mais carentes, enquanto fazendo grandes programas de capacitação profissional.
Rodovias&Vias:
De fato, a mobilidade tem sido um grande destaque na sua gestão, com implantações importantes de sistemas como o BRT, ampliações do Metrô, planos para implantação do VLT e mesmo modais alternativos como o cicloviário. Como é possível conciliar todas estas iniciativas em uma cidade que pode ser considerada – também – o berço do automobilismo como indústria no Brasil?
Ibaneis Rocha: O Distrito Federal ficou parado no tempo por muitos anos. Houve pouquíssimo investimento na ampliação da malha viária, enquanto a população não parou de crescer. Isso fez com que nós desenvolvêssemos um programa amplo e que, curiosamente, provoca uma crítica estranha dos adversários: dizem que estamos fazendo muitas obras ao mesmo tempo. Ocorre que estamos mesmo correndo contra o tempo. E ainda temos que aproveitar o período de seca para acelerar, porque com chuva fica mais difícil. Os viadutos que estamos construindo para facilitar o trânsito não são meios para beneficiar apenas a quem tem carro. Ao contrário, com eles os ônibus vão trafegar melhor e por faixas exclusivas fazendo com que as pessoas percam menos tempo na viagem de casa para o trabalho.
Rodovias&Vias: O DF, ainda que dispense maiores apresentações, reúne uma série de predicados importantes para os investidores dentro e fora do Brasil. Como o senhor avalia sua gestão enquanto uma promotora de um ambiente de negócios saudáveis incluindo também questões como a segurança jurídica, tão sensíveis para a atração de capitais?
Ibaneis Rocha: Eu tenho por norma não atrapalhar quem empreende. O Distrito Federal, por sua localização geográfica, malha viária de estradas e pelo aeroporto, tem uma grande atração para empresas de logística e distribuição. Elas têm descoberto isso e temos procurado facilitar a vida de quem vem, com oferta de terrenos e outros incentivos, como a urbanização das áreas de desenvolvimento econômico. O mais importante é que oferecemos segurança jurídica para quem vem empreender no DF e isso está sendo reconhecido por todos mesmo num momento em que há uma grande retração do mercado nacional como um todo.
Rodovias&Vias: Por fim, como não poderia deixar de ser, que mensagem o governador deixa aos empreendedores em geral, e em especial aos que se dedicam ao segmento da construção pesada de todo o Brasil?
Ibaneis Rocha: Inicialmente, que o Distrito Federal está aberto para todos. Aqui, oferecemos oportunidade para crescer, realizar. Gosto de
dizer que quem precisa de governo é o pobre; o rico basta não atrapalhar. Temos muitas oportunidades de negócios aqui e uma cidade aberta aos empreendedores de todo o país. O Distrito Federal tem problemas, mas tem a maior renda per capita do Brasil, um mercado consumidor pujante e muito para crescer.
Fonte: EG NEWS com autorização de publicação de Leandro Dvorak Diretor Institucional R&V