Candidata a deputada estadual pelo PSL nas últimas eleições, a professora aposentada Cleuzenir Barbosa declarou que o partido promoveu um esquema de lavagem de dinheiro público em Minas Gerais, que na época tinha o diretório regional presidido pelo hoje ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio(foto).
Segundo depoimento de Cleuzenir para o jornal Folha de S. Paulo de hoje (19), o ministro do governo Jair Bolsonaro sabia das operações. O caso dela seria o de mais uma “candidatura laranja” da legenda. Na semana passada, a Procuradoria Eleitoral começou a investigar quatro candidatas mineiras suspeitas de serem laranjas de Marcelo Álvaro.
O diretório do partido em Pernambuco também é investigado por procedimentos semelhantes. O escândalo foi uma das causas da queda do advogado Gustavo Bebianno, presidente interino do PSL durante as eleições, do cargo de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência.
Cleuzenir, que diz não ter aceitado integrar o esquema, não foi eleita (teve 2.097 votos) e hoje vive em Portugal. Disse ter deixado o Brasil por temor de retaliações por parte dos aliados de Álvaro Antônio.
A professora aposentada conta que, dos R$ 60 mil que recebeu do fundo eleitoral para sua candidatura, um valor de R$ 50 mil reais deveria ser devolvido para assessores de Álvaro Antônio. Ela conta que comunicou a situação a outros membros da equipe do hoje ministro e tentou denunciar o caso diretamente para ele, mas que nada foi feito.
“Era o seguinte: nós mulheres iríamos lavar o dinheiro para eles. Esse era o esquema. O dinheiro viria para mim e retornaria para eles. Dez mil foi o que me falaram que eu poderia ficar, foi aí que eu vi que tinha erro. Eles falaram que eu poderia fazer o que eu quisesse. Onde já se viu isso?”, relatou a ex-candidata.
Na entrevista, ela diz que se filiou ao PSL por influência de Enéias Reis, deputado suplente de Álvaro Antônio. “Ele, Enéias Reis, estava indo para Brasília e nós fomos. Bolsonaro nos recebeu, Marcelo também. E aí veio o convite para me filiar no PSL. Jair fez um vídeo pedindo apoio para a minha candidatura. Até então, estava tudo correndo dentro do script. Não foi falado em dinheiro, só de apoio.”
A ex-candidata diz que soube dos desvios apenas quando o dinheiro caiu em sua conta.
“Quem ficou responsável pela minha região foi o Haissander de Paula, assessor do ministro, que começou a falar que ia vir um dinheiro. Ele falava que o Marcelo [ministro] estava muito apertado, coitadinho, e que a mãe ia doar um dinheiro pra campanha dele. Era uma história comovente. Que precisava ajudar outros candidatos com esse dinheiro”, explica Barbosa.
“Falaram que a mãe do Marcelo mandaria na minha conta R$ 50 mil. E que eu poderia contratar pessoas, que viria o dinheiro da mãe do Marcelo, para fazer a campanha. Quando caiu na minha conta, falei: caiu o dinheiro, mas não sei a origem, preciso ver. Quando ligo pro Robertinho [Soares, outro assessor] falo que não é dinheiro do fundo da mulher nem da mãe do Marcelo. Ele respondeu: é o mesmo. Aí quando ele falou isso, caiu a ficha”, completa.
Cleuzenir Barbosa diz que teve que viajar para o exterior após fazer as denúncias sobre o esquema: “Peço para as mulheres que denunciem. Não fiquem caladas, se exponham, sim. Eu vou entrar com pedido de proteção à vítima. Esse povo é perigoso. Hoje eu sei, eles são uma quadrilha de bandidos”.
O Ministério Público de Minas Gerais expediu, ontem, intimações para ouvir vinte pessoas em inquérito que investiga o caso dela e outras supostas “laranjas” do PSL no Estado – todas candidatas mulheres.
Os depoimentos serão prestados a partir desta semana. Em contato com o jornal O Estado de S. Paulo, o promotor eleitoral Fernando Abreu, responsável pelo caso, declarou que o inquérito pode evoluir para uma investigação sobre a ocorrência do crime de lavagem de dinheiro.
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), afirmou que tomou conhecimento da denúncia por lideranças partidárias e que determinou sua apuração. “A denunciante foi chamada a prestar esclarecimentos em diversas ocasiões e nunca apresentou provas ou indícios que atestassem a veracidade das acusações”, disse.
Ele também afirmou que Cleuzenir não tem credibilidade por ter sido “aposentada por sentença judicial que reconheceu distúrbios psiquiátricos incapacitantes total e permanentes”. Ele também disse que ela repassou a familiares dinheiro da campanha e que fez elogio público a ele um dia antes de registrar o boletim de ocorrência.
Fonte:Folha de S. Paulo/ Exame