Nelson Pereira dos Santos, um dos maiores diretores do cinema brasileiro, faleceu neste fim de semana. Tenho registro histórico importante sobre ele.
Nosso contato aconteceu em 1990, quando coordenei a campanha eleitoral na qual Joaquim Roriz se elegeu governador do DF pela primeira vez (antes, por dois anos, Roriz foi governador nomeado).
O escritório do candidato era no Edifício Denasa. No meio da tarde, andando pelo Setor Comercial Sul, encontrei amigo antigo, Antenor Júnior, acompanhado de algumas pessoas.
Rapidamente, ele me apresentou Nelson Pereira dos Santos. Disse que estavam cuidando do Festival do Cinema de Brasília.
Não perdi a oportunidade e convidei o grupo para uma conversa com Roriz, no primeiro andar do Denasa. Tomaram!
Subindo a escada a pé, perguntei a Antenor Júnior: “O que vocês podem propor para o projeto de governo do Roriz?”
Júnior nem meditou e disse: “A criação de um Polo de Cinema em Brasília!”.
Paramos na escada. Perguntei ao grande Nelson: “Você pode expor esta ideia ao governador?” – Claro!
Tivemos conversa divertida, cheia de “causos”, durante uma hora. Nelson mostrou que Brasília podia ser a casa dos cineastas, se tivesse um polo de cinema estruturado. E Roriz começou a sonhar com isso.
Pouco depois, produzi o documento chamado de “50 Compromissos do Roriz”, todps registrados em cartório. Incluí o Polo de Cinema, para não deixar a ideia morrer.
Roriz ganhou a eleição e cumpriu a promessa. Criou comissão para instalar o polo, presidida pelo jornalista André Gustavo Stumpf. Como secretário do Trabalho, participei dessa comissão.
Nas discussões, envolvendo gente de altíssimo nível, como o próprio Nelson Pereira dos Santos, foi escolhida imensa área em Sobradinho. Os técnicos alegavam que aquela região não tinha aviões passando a baixa altura, situação que prejudica a tomada de som em filmes.
Muita coisa boa foi feita no Polo de Cinema de Sobradinho, inclusive um dos clássicos do Nelson, a Terceira Margem do Rio, filme baseado no conto de Guimarães Rosa.
Com o tempo, vieram governos horríveis, que deixaram o Polo de Sobradinho acabar. Hoje é praticamente uma ruína.
Fica a lembrança de Nelson Pereira dos Santos, um gentleman brasileiro. (RENATO RIELLA)
