Aprendi ao longo dos anos o seguinte…
Se você leu um jornal e não riu nem chorou, jogue o jornal fora.
Jornalismo é a maximização das emoções, a criatividade a partir do comum, a literatura do dia a dia.
Digo isso porque assisto esses programas de debate com os candidatos, em diversos canais, e vejo como os jornalistas são destituídos de sensibilidade. Até nos sorrisos demonstram prepotência. Necas de charme…
Ninguém ri nem passa visão dramática de nada. São umas máquinas atrasadas fazendo perguntas mecânicas, recheadas de preconceito. Como entrevistar Bolsonaro sem rir, sem curtir suas extravagâncias?
Por isso os veículos quebram, fecham, ficam fininhos, reduzem monstruosamente as suas tiragens, ou têm audiências ridículas. Perderam graça, irreverência…
A exceção é o programa Em Pauta, da Globo News, a partir das 20h, agora com uma hora e meia de duração.
Os cinco participantes, que variam, leem poesias, discordam entre si, comentam as roupas uns dos outros e falam de experiências pessoais.
Ontem, Eliane Cantanhede, que está se transformando num ícone do necessário não-jornalismo, comentou longamente sobre o ato de amamentar, inclusive citando a experiência da própria filha.
Foi um dos assuntos do Em Pauta. O programa abandonou pesquisas e pareceres médicos para falar da amamentação sob a ótica pessoal, com muita emoção. E o público acreditou, pois tudo pareceu sincero (mesmo se tiver sido ensaiado antes) .
O pessoal no Brasil está fazendo jornalismo com ares de depressão. Jovens, recém-entrados no mercado, fazem ares de vítima de uma ditadura que acabou há 34 anos, antes deles nascerem.
Escrevo muito sobre isso e recebo olhares de desprezo de quem ainda vive em redações. Mas, garotos e garotas, somente de edição de primeiras páginas tenho mais de duas mil experiências diárias…creio que isso vale alguma coisa.
Rapazes e moças das redações, vocês perderam o ponto de contato com a sociedade, isto é: com o povo.
No caso das entrevistas com os candidatos, os jornalistas são os neo-vilões do Brasil. (RENATO RIELLA)
