RENATO RIELLA
Vejo por aí, hoje em dia, editores como Ana Dubeux falando sobre o Carnaval de Brasília sem perceber que estão no paraíso. Antes era dureza fechar uma edição.
Lembro que, na década de 80, antes do Pacotão, editei a primeira página do Correio Braziliense que sairia na Quarta-Feira de Cinzas. Claro que deveria ter fotos da folia local em destaque.
Na Terça-Feira de Carnaval, enquanto quase todo mundo curtia o feriado, estava eu sentado numa mesa, selecionando mais de 50 fotos, de três fotógrafos.
Não havia uma que se salvasse. O Carnaval de Brasília foi literalmente uma merda (os fotógrafos eram bons).
Para meu azar, chegou o estrelíssimo Oliveira Bastos, que era o diretor de redação. Percebeu minha tarefa. Relatei a dificuldade e ele reagiu:
-Porra, você não tem competência nem para escolher uma foto de Carnaval?
Me empurrou para o lado e mergulhou na pilha. Depois de cinco minutos, ligou para o arquivo fotográfico e pediu a pasta de fotos do Carnaval anterior, de um ano antes.
Em 30 segundos, escolheu um cara magricelo pulando na W3 e foi embora com ar de vitorioso – sem se despedir.
Manda quem pode. Obedece quem tem juízo – aliás, obedece quem precisa do emprego. Portanto, nem vacilei. Abri a foto alegre bem grande na primeirona.
No dia seguinte, a viúva do folião entrou na redação alucinada, querendo matar alguém. Sabem quem Oliveira mandou atendê-la? Ora, o cara que “obedece quem tem juízo”.