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nov 28 2022

Recenseamento 2022 do Copan, o maior edifício residencial da América Latina

Burocracia paralisa reforma do edifício Copan | Cimento Itambé

Uma construção, em particular, desperta a curiosidade de quem caminha pela Avenida Ipiranga, em São Paulo. Um prédio em formato irregular, feito de alvenaria e concreto armado, de curvas e dobras acentuadas. Trata-se de um dos mais icônicos cartões-postais da metrópole paulistana: o Edifício Copan.

O projeto, idealizado por Oscar Niemeyer, foi construído entre os anos de 1952 e 1966 e impressiona não apenas por sua estrutura inusitada em forma de “S”, mas também por seus números colossais: são mais de 120.000 m² de área construída, 115 metros de altura, 1.160 apartamentos (que variam entre quitinetes a coberturas com mais de 200 m²), 32 andares, 22 elevadores, 115 vagas de estacionamento, 104 funcionários e uma área comercial que conta com 72 lojas que atendem aos seus 5 mil moradores: população superior a 22% (ou 1.287) dos 5.570 municípios brasileiros.

Atualmente, o condomínio é considerado o maior conjunto de apartamentos residenciais da América Latina.

Rodeado por vias agitadas, bancas de jornais e patrimônios históricos importantes, como a Igreja da Consolação, o Teatro Municipal e o Edifício Itália, o prédio causa espanto por seu tamanho monumental.

Ao entrar no prédio, observam-se estabelecimentos comerciais em um espaço conhecido como Galeria. Dezenas de lojas oferecem todo tipo de serviço aos seus residentes e visitantes, desde restaurantes, papelaria, livraria, lavanderia, estúdio de pilates e até locadora de filmes – uma das poucas remanescentes em São Paulo em meio à era das redes de streaming.

Para realizar o Censo 2022 no edifício, que conta com sete setores censitários, foram designados dois recenseadores, Antônio Lima e Sérgio Ricardo, ambos moradores do Copan. Durante o início da coleta, Antônio e Sérgio, acompanhados pelo supervisor Rafael Canotilho, dirigiram-se à cobertura, no intuito de configurar as coordenadas do local em seus DMCs (Dispositivos Móveis de Coleta). A área também conta com um heliporto (desativado, pois não possui medidas de comprimento adequadas para pousos).

Para alcançar a cobertura, é preciso subir 33 andares em um dos elevadores. A pequena viagem vale a pena: dali se tem uma vista panorâmica na qual é possível observar a cidade de São Paulo. O prédio da prefeitura, a Catedral da Sé, o Elevado Presidente João Goulart (conhecido popularmente como Minhocão), o Sambódromo do Anhembi, os hotéis Hilton e Jaraguá, a Estação da Luz, o Estádio do Sport Club Corinthians Paulista e os morros do Jaraguá são alguns locais que podem ser vistos.

Após finalizar as coordenadas, os recenseadores montaram uma mesa na Galeria, para recepcionar os moradores. No intuito de facilitar a coleta censitária, eles criaram listas de todos os apartamentos dos seis blocos (A ao F) do edifício. “Essa ideia das listas quem deu foi a minha esposa. Elas estão facilitando o nosso trabalho”, afirma Antônio. Com a lista em mãos, conversam com os porteiros para chamarem os moradores a comparecer à Galeria. “Tem blocos com mais e outros com menos domicílios. Assim, dividimos o trabalho para cada recenseador por domicílios”, explica Rafael.

Ao notar a atividade dos recenseadores, uma das moradoras se aproximou e mencionou que gostaria de participar do Censo.

Baiana natural de Arraial d’Ajuda, Ísis reside no Copan há 4 anos, onde compartilha um apartamento de 90m² com sua mãe, irmã e pai, que completou 100 anos há poucos dias. “Durante as edições de 1980 e 1990, fui recenseadora nas cidades de Ilhéus e no Rio de Janeiro. Enquanto fazia a coleta no Leblon (bairro da capital fluminense), tive a oportunidade de conhecer o presidente do IBGE na época”, relembra.

Sobre a interação com os moradores, o recenseador Sérgio afirmou: “A receptividade aqui é muito boa. Gosto muito de conhecer as pessoas do prédio, adoro as nossas conversas. Na primeira semana trabalhando aqui, conheci um publicitário que compôs um jingle para uma loja de departamentos e essa música ficou muito conhecida na década de 60. Ficamos conversando por quase duas horas”.

Antônio, um dos recenseadores que atua no Copan, é protagonista de uma história de vida bastante peculiar. Formado em arquitetura e teatro, morador do Copan há cinco anos, tinha como objetivo pessoal recensear o condomínio. “Posso dizer que cobrir o Censo aqui é uma realização. Digo isso não apenas pelo fato de ser morador, mas também porque gosto muito desse prédio projetado por Oscar Niemeyer, o pai da arquitetura brasileira. O Copan é uma cidade, é uma vida à parte aqui no centro histórico”.

Nas edições anteriores em que participou, o questionário do Censo era feito em papel. Desse modo, Antônio imaginou que teria dificuldades para lidar com as novas tecnologias. Porém, após alguns dias na função, conseguiu realizar a pesquisa utilizando o DMC sem nenhum problema. “Eu tive um pouco de receio, pois nunca fui muito ligado a tecnologia e temia com a possibilidade de possíveis problemas no equipamento. Nas outras vezes em que trabalhei no Censo, a pesquisa ainda era feita de forma escrita e era tudo muito rústico, com papel e caneta. Você anotava, apagava, anotava de novo, pedia orientações… Agora, achei o sistema muito bem pensado. Nós recebemos todas as orientações por meio do nosso posto e supervisor. Tudo é muito claro e até o momento não tive nenhum problema”, acrescentou.

Em sua mesa no andar mezanino, rodeado por dezenas de blocos de papéis, correspondências, jornais impressos e um enorme quadro com uma fotografia em preto e branco do Copan, encontra-se Affonso Celso Prazeres de Oliveira, 83 anos, responsável por comandar o maior condomínio residencial da América Latina. Conhecido popularmente como o “prefeito do Copan”, sua rotina é atribulada. Enquanto falava sobre a história do edifício, conversava com os porteiros por meio de um rádio hand-talk, observava as câmeras de segurança e ainda respondia chamadas em seu telefone particular. “Eu me dedico 24 horas do dia ao meu trabalho. Dediquei tudo ao Copan. Esse prédio é minha vida”, afirmou.

O “prefeito” fez questão de comentar sobre episódios curiosos de sua longa trajetória profissional, entre elas o caso do fantasma da casa de máquinas, encontros com cantores famosos como Roberto Carlos e Tim Maia na Avenida Ipiranga e sua luta para que o prédio oferecesse acessibilidade ao público idoso. Além disso, Affonso não deixou de mencionar seu projeto mais ambicioso: a criação de um Museu do Copan, cujo acervo seria composto por materiais de sua coleção pessoal, objetos da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) e até esboços do prédio feitos pelo próprio Oscar Niemeyer.

Sobre as mudanças sociais ao longo da última década, observou: “Hoje, a maioria dos residentes do Copan são proprietários; o número de inquilinos está se reduzindo ao longo do tempo. Temos alguns apartamentos que são locados por empresas de hospedagens temporárias. Além disso, noto que cada vez mais imigrantes têm interesse pelo endereço”.

Uma curiosidade que chama a atenção em relação ao Copan é o número de moradores. De acordo com Affonso, esse dado é difícil de saber. “Acredito que, atualmente, cerca de cinco mil pessoas vivam aqui. Essa é a importância do Censo, pois somente a pesquisa poderá esclarecer essa dúvida”.

Para Ana Kazan, Coordenadora de Comissões do Censo SP, a coleta de pesquisas do IBGE em condomínios é sempre um desafio. “Desde 2019, o IBGE vem cultivando contatos com associações e sindicatos de síndicos, administradores de imóveis, funcionários de condomínios, empresas de portaria eletrônica e segurança, no intuito de difundir o Censo e sua importância para toda a população. Nesse trabalho, enfatizamos os cuidados com a segurança de todos, garantindo fácil identificação do recenseador”, detalha.

Fonte: Ascom/ IBGE -Ralph Izumi

Foto: Divulgação

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