LAUDELINO JOSÉ SARDÁ
O moralismo francês teve ataques de exacerbação, principalmente nos séculos XVII e XVIII, mas um de seus figurantes, Jean Bruyère, tem uma frase conceitual que se encaixa na realidade brasileira de hoje: “É difícil decidir se a incerteza faz o homem mais infeliz que desprezível”.
Quando a Argentina julgou seus generais e civis pelas atrocidades praticadas durante a ditadura, a sua população curvou-se à corte, justamente pela confiança em sua justiça.
O general ditador Videla morreu na prisão, aos 87 anos.
O Brasil vegeta ainda na fase imperial, em que os três poderes comungam a teoria da sua própria sobrevivência política. Hoje, no julgamento do ex-presidente Lula, a Nação vive na incerteza, na insegurança jurídica, dividida em duas alas, a da condenação e a da absolvição.
As manifestações expressam duas teorias válidas: o imprescindível combate à corrupção e a necessidade de a Nação viver em segurança jurídica.
No final da tarde, com o fim do julgamento do ex-presidente Lula, a Nação continuará infeliz, no mesmo oceano da insegurança jurídica, apenas por um motivo: a sociedade brasileira continuará cética em relação aos três poderes que deveriam proporcionar segurança institucional ao Estado.
Bruyère tem razão: a incerteza faz o brasileiro desprezível, entorpecido justamente por não entender por que os três poderes fazem das leis a sustentação falsa de um Estado intolerável.