«

»

abr 25 2014

Roriz jogou fora uma fantástica biografia por trapalhada dos seus assessores

RENATO RIELLA

Joaquim Roriz jogou fora uma das biografias mais valiosas entre os políticos do Brasil, por causa do episódio do “Bezerro do Ouro”, mas agora vê-se absolvido na Justiça do DF das acusações malucas que sofreu em 2007.

O ex-governador renunciou ao mandato de senador, logo depois de eleito, para não responder a processo no Conselho de Ética do Senado.

Por causa dessa renúncia, viu sua vida política acabar. Segundo a Lei da Ficha Limpa (editada dois anos depois), ele tornou-se inelegível por renunciar a mandato parlamentar para evitar cassação.

Tudo isso poderia ter sido evitado, pois na verdade Roriz não praticou nenhuma irregularidade no tal episódio do “Bezerro de Ouro”, mas foi tão mal assessorado, que desmoronou e se desmoralizou, virando motivo nacional de piadas.

Esta semana, ele foi formalmente absolvido da acusação de favorecimento no episódio trágico. O juiz Jansen Fialho, da 3ª Vara de Fazenda Pública do DF, considerou improcedente a ação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

Os promotores apontaram ilegalidade na operação de desconto no Banco de Brasília (BRB) de um cheque do Banco do Brasil (BB) no valor de R$ 2,2 milhões, emitido pelo empresário Nenê Constantino. Mas não houve nada de ilegal.

Diálogos interceptados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF revelaram uma conversa entre Roriz e Constantino a respeito da partilha do dinheiro, resultante do desconto do cheque.

A movimentação foi considerada suspeita por envolver o saque de quantia tão elevada. Roriz sempre alegou que a transação envolveu um empréstimo no valor de R$ 300 mil que contraiu com Constantino para a compra do embrião de uma bezerra na Universidade de Marília.

Os recursos eram de Constantino, dono da Gol e de muitas outras empresas, homem que tem fortuna avaliada em muitos bilhões de reais. A quantia de R$ 2,2 milhões não representa quase nada para ele, diante de tanto dinheiro em seu poder.

Roriz apenas intercedeu no BRB, junto ao presidente Tarcísio Franklim de Moura, para que o desconto do dinheiro se desse mais rápido.

No entanto, essa operação foi feita de forma deselegante por assessores trapalhões do próprio Roriz, que levaram todo o dinheiro em espécie, despertando suspeita de trambique.

JUIZ NÃO VIU IRREGULARIDADE

Ao analisar a ação, o juiz Jansen Fialho partiu da premissa de que a negociação envolveu um empréstimo e apontou que não houve nenhum favorecimento.

“Ao que tudo indica, a única conduta do então senador da República foi solicitar o desconto do famigerado cheque, valendo-se do fato de ter algum relacionamento com Tarcísio. No entanto, embora seja um pedido estranho, não se evidenciou que a operação havida se deu como forma de dissimular algum delito ou mesmo pautada para favorecer indevidamente particulares em detrimento do interesse público, haja vista a ausência de elementos nos autos capazes de se levar a esse entendimento”, assinala Jansen.

Quando Roriz ia fazer o tal discurso no Senado, em 2007, no qual renunciou ao mandato, enviei para ele, via Fernando Lemos (jornalista falecido em 2012), proposta de discurso no qual explicaria de forma convincente toda a operação, escapando da crise.

Mas esse texto feito com profundidade nunca chegou às suas mãos, ficando retido em mãos de assessores que afundaram o ex-governador.

Roriz sempre comprou matrizes bovinas de elevado valor, para reprodução, em sociedade com amigos ricos. O ex-senador é freqüentador dos principais leilões de animais, quando obtém ótimas negociações, dando resultados financeiros animadores aos seus sócios quando revende as matrizes.

Ele é amigo do bilionário Nenê Constantino desde o início de Brasília, quando trabalharam na construção da cidade (antes de 1960).

Por outro lado, o BRB tinha obrigação de dar atendimento privilegiado ao pedido de um correntista bilionário, do porte de Constantino. Qualquer banco privado faria da mesma forma, pois os clientes especiais merecem ser bem atendidos.

Nada disso foi explicado e ficou parecendo que Roriz usou o dinheiro de Constantino para comprar uma vaquinha de churrasco.

Agora é tarde. Não adianta chorar o leite derramado. Basta saber-se que Roriz perdeu o mandato de senador por nada.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*