RENATO RIELLA
Milhões de pessoas em todo o mundo estão sabendo que, em São Paulo, uma atendente da rede Animale expulsou da frente da loja um garoto, filho de um americano, porque o menino é negro. O caso virou grande escândalo nas redes internacionais.
Dando muita risada, lembrei que já fui também discriminado no centro comercial paulista, por ser branco. Isso mesmo! Pela minha cor da pele…
Vou contar essa história. Há mais de dez anos, acompanhei minha mulher, Marcia Lima, numa caminhada pela rua mais chique do Brasil, a Oscar Freire.
Ela estava muito bem vestida, fashion total. O meu estilo era totalmente despojado, parecendo jornalista de Segundo Caderno, o chamado Caderno de Cultura: tênis All Star, calça jeans velha e camisa pólo, além de um óculos escuro, de grau, bem vagabundo. Parecia um ceguinho…
Junto com a gente estava minha enteada, Ana Lima, com 12 ou 13 anos, magrinha, miúda, e também vestida da forma mais despojada possível.
Márcia entrou na loja Blowup, na Oscar Freire, para pegar um catálogo de moda. Demorou alguns minutos. Quando saiu, tomou o maior susto.
Encontrou nós dois sentados num degrau do lado de fora da fina loja, com a mão estendida, pedindo esmolas a quem passava na calçada.
Isso durou pouco mais de cinco minutos. De forma discriminatória, ninguém nos deu nenhuma moedinha, apenas porque a gente aparecia como seres de pele branca (embora vestidos quase como mendigos). Sacanagem! Será que não existe gente pobre entre os brancos?
Lembro de uma velhinha, com cara de judia, cheia de jóias, que passou por nós se arrastando, seguida por um segurança de paletó e uma “babá”. Ela andou um pouco, virou-se e ficou olhando para a dupla, sem acreditar no que via em frente à caríssima Blowup.
E assim guardamos essa experiência de discriminação ao contrário, justificando de forma inversa o título daquele filme: Branco Sai, Preto Fica.
