RENATO RIELLA
Classificar como “tapetão” decisões da Justiça que passam até pelo Supremo Tribunal Federal é uma postura assustadora, monstruosa, nunca vista na vida política brasileira.
“Tapetão” é uma expressão exclusiva do futebol. Vem de um ambiente sujo, onde decisões tomadas em campo são mudadas no tapete suspeito das entidades ligadas à Confederação Brasileira de Futebol.
No plano internacional, não se usa essa expressão no futebol. Provavelmente só o Brasil se arrisca a desclassificar instituições formalmente organizadas. Quando a Fifa tirou o uruguaio Suarez da Copa por causa de uma dentada, ninguém alegou “tapetão”.
“Tapetão” é sinônimo de corrupção, de manipulação do poder para resultados imundos, que visam mudar o quadro justo das coisas.
Por isso, quando o ex-governador José Roberto Arruda diz diariamente que as decisões da Justiça relativas à sua pessoa são fruto do “tapetão”, está acusando todo mundo de tudo.
Ele afirmou, por exemplo, que todas as suas denúncias ocorreram porque não aceitou propostas da presidente Dilma Rousseff, do ministro Gilberto Carvalho e até de um diretor-geral da Polícia Federal para mudar de partido em 2009.
Por isso teria sido investigado, processado, preso, destituído do governo do DF e, agora, impugnado pela Procuradoria Eleitoral na tentativa de disputar a eleição de 2014.
ESTARIA JOAQUIM NO “TAPETÃO” DA DILMA?
A decisão mais recente contra Arruda veio do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, que autorizou o Tribunal de Justiça do DF a julgar o ex-governador em segunda instância, tornando-o inelegível.
Classificar Joaquim Barbosa de “tapetão” é imaginar que ele está mancomunado com a presidente Dilma para atingir de forma criminosa o candidato José Roberto Arruda. Dá para acreditar?
O STF, em liminar, autorizou o TJDF a julgar Arruda neste mês de julho, a partir de uma solicitação da Procuradoria Geral da República. Estaria a PGR envolvida num “tapetão” criminoso, estilo CBF, para atingir Arruda?
Em mais de 40 anos de profissão, nunca vi todas as esferas da Justiça e do Ministério Público serem tão duramente atingidas por um réu – e um réu de origem política. Nem os petistas presos no Mensalão chegaram a tanto.
Ainda hoje, no Correio Braziliense, vejo que José Roberto Arruda está desafiando todo mundo, ao afirmar que ninguém vai derrotá-lo no “tapetão”.
O Poder Judiciário e o Ministério Público, em todos os níveis hierárquicos, aceitam esta desmoralização, fazendo de conta que não leem as palavras do ex-governador do DF.
Pois fiquem sabendo, senhores juízes, procuradores, ministros, promotores e advogados: “tapetão” é sinônimo de decisão corrupta. É a manipulação de processos para atingir objetivos condenáveis.
Quem cala consente. Se Arruda faz esta denúncia diariamente, na imprensa ou em discursos divulgados pela Internet, isso está virando verdade.
A Justiça brasileira aceita ser classificada como “tapetão”. É assustador!
