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nov 22 2020

VAMOS SALVAR O HOMEM (Dr. Diogo Mendes)

Ao refletir sobre as dificuldades que as sociedades manifestam, mundo afora, na implementação de um programa mínimo (não teórico) de saúde do homem, surgem inúmeros raciocínios.

Contudo, de saída, pergunto: seria o homem o verdadeiro sexo frágil?

Após longa ação realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em agosto de 2009, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Saúde do Homem”. Lamentavelmente, a maioria das pessoas e muitos profissionais da saúde desconhecem esta iniciativa.

São alarmantes os números brasileiros: de cada três óbitos até 59 anos no nosso país, dois são homens.

De cada cinco óbitos entre 14 e 29 anos, quatro são homens. E a expectativa de vida da mulher é sete anos maior que a do homem.

São dados críticos para despertar o debate.

Podemos mudar o enfoque para uma ótica filosófica, buscando o olhar judaico/cristão que norteia nosso pensamento.

Quem se debruça atentamente sobre o texto do Gênesis, para ler o mito hebraico da criação do Homem, há de perceber a presença de duas narrativas distintas.

No capítulo 1 do livro, Deus cria, no “último dia da Criação”, o primeiro casal de humanos: homem e mulher são criados juntos, num mesmo momento, da mesma maneira.

No capítulo 2, o homem é criado primeiro, enquanto a mulher só nasce posteriormente, a partir de uma costela do macho.

Esta aparente e real dicotomia dentro do pensamento filosófico eclesiástico mostra a dificuldade atávica inerente à caracterização do homem pelo homem, desde tempos imemoriais.

A verdadeira mudança ocorrerá quando alterarmos o paradigma da idealização de homem como forte, inexpugnável, resiliente, constante e feito de aço – portanto inquebrável.

Decorre desta consciência coletiva o grande nó, que a nós médicos cabe modificar .

Ressalvo que, no exercício de nossa arte de curar, temos de aproveitar o momento em que o homem vem à consulta médica, não importa a especialidade.

Nessas consultas variadas, é preciso criar condições adequadas para que este homem cliente entenda ser importante cuidar da saúde (o seu bem mais valioso).

Todos somos responsáveis pela conscientização dos seres masculinos.

Médicos civis e militares, médicos de família, cardiologistas, geriatras, ginecologistas, urologistas, demais especialistas, gestores em saúde, etc, devem se engajar nesta campanha.

Todos precisamos cumprir o nosso dever de modificar a sociedade para melhor.

É urgente o desenvolvimento de um modelo corporativo empresarial e governamental, em todos os níveis, que inclua a atenção à saúde da população masculina como prioridade.

Este esforço trará benefícios diversos ao mundo, culminando com a diminuição do absenteísmo às atividades e menor adoecimento em geral.

A compreensão pela população de um modelo de cuidado do homem, que contemple a inclusão da mulher e da família, é urgente.

O alerta está dado. A conscientização da sociedade para esta realidade ainda difusa permitirá a melhora global da saúde da população do sexo masculino, de todas as faixas etárias.

Conclamo todos os médicos para que lutemos por este novo paradigma proposto. No geral, o homem nem percebe, mas precisa muito da nossa solidariedade.

—DIOGO MENDES é médico urologista e Diretor de Comunicação da Associação Médica de Brasília

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