Ao refletir sobre as dificuldades que as sociedades manifestam, mundo afora, na implementação de um programa mínimo (não teórico) de saúde do homem, surgem inúmeros raciocínios.
Contudo, de saída, pergunto: seria o homem o verdadeiro sexo frágil?
Após longa ação realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em agosto de 2009, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Saúde do Homem”. Lamentavelmente, a maioria das pessoas e muitos profissionais da saúde desconhecem esta iniciativa.
São alarmantes os números brasileiros: de cada três óbitos até 59 anos no nosso país, dois são homens.
De cada cinco óbitos entre 14 e 29 anos, quatro são homens. E a expectativa de vida da mulher é sete anos maior que a do homem.
São dados críticos para despertar o debate.
Podemos mudar o enfoque para uma ótica filosófica, buscando o olhar judaico/cristão que norteia nosso pensamento.
Quem se debruça atentamente sobre o texto do Gênesis, para ler o mito hebraico da criação do Homem, há de perceber a presença de duas narrativas distintas.
No capítulo 1 do livro, Deus cria, no “último dia da Criação”, o primeiro casal de humanos: homem e mulher são criados juntos, num mesmo momento, da mesma maneira.
No capítulo 2, o homem é criado primeiro, enquanto a mulher só nasce posteriormente, a partir de uma costela do macho.
Esta aparente e real dicotomia dentro do pensamento filosófico eclesiástico mostra a dificuldade atávica inerente à caracterização do homem pelo homem, desde tempos imemoriais.
A verdadeira mudança ocorrerá quando alterarmos o paradigma da idealização de homem como forte, inexpugnável, resiliente, constante e feito de aço – portanto inquebrável.
Decorre desta consciência coletiva o grande nó, que a nós médicos cabe modificar .
Ressalvo que, no exercício de nossa arte de curar, temos de aproveitar o momento em que o homem vem à consulta médica, não importa a especialidade.
Nessas consultas variadas, é preciso criar condições adequadas para que este homem cliente entenda ser importante cuidar da saúde (o seu bem mais valioso).
Todos somos responsáveis pela conscientização dos seres masculinos.
Médicos civis e militares, médicos de família, cardiologistas, geriatras, ginecologistas, urologistas, demais especialistas, gestores em saúde, etc, devem se engajar nesta campanha.
Todos precisamos cumprir o nosso dever de modificar a sociedade para melhor.
É urgente o desenvolvimento de um modelo corporativo empresarial e governamental, em todos os níveis, que inclua a atenção à saúde da população masculina como prioridade.
Este esforço trará benefícios diversos ao mundo, culminando com a diminuição do absenteísmo às atividades e menor adoecimento em geral.
A compreensão pela população de um modelo de cuidado do homem, que contemple a inclusão da mulher e da família, é urgente.
O alerta está dado. A conscientização da sociedade para esta realidade ainda difusa permitirá a melhora global da saúde da população do sexo masculino, de todas as faixas etárias.
Conclamo todos os médicos para que lutemos por este novo paradigma proposto. No geral, o homem nem percebe, mas precisa muito da nossa solidariedade.
—DIOGO MENDES é médico urologista e Diretor de Comunicação da Associação Médica de Brasília