RENATO RIELLA
O Banco Central elevou a taxa básica de juros do Brasil (Selic) para 8% ao ano, aplicando o remédio clássico, não necessariamente comprovado, para “evitar o surto inflacionário”. Há muitas leituras em torno dessa decisão.
Aqui no BLOG, temos comentado que a redução dos juros representou, para a presidente Dilma Rousseff, o mesmo que o Plano Real representou para Fernando Henrique Cardoso. Mas FHC soube capitalizar o projeto de neutralização da inflação e entrou na história, elegendo-se duas vezes presidente da República. O seu partido, o PSDB, até hoje tem o Plano Real como a principal bandeira eleitoral.
Dilma reduziu os juros e gerou condições muito especiais de crédito para toda a população, mas não soube faturar pessoalmente em cima dessa grande conquista. Ela não tem aptidão política. Na verdade, por incrível que pareça, não tem o mínimo saco para dialogar com o povo, nem para vender suas grandes ações em benefício da sociedade. Fica difícil de manter uma candidata a presidente tão autoritária, tão administrativa.
E, assim, vemos o Banco Central abalando o principal trunfo eleitoral de Dilma, mesmo sabendo-se que os efeitos (se houver) contra a inflação só serão sentidos a médio prazo.
A curto prazo, o chamado mercado externo, teoricamente, passa a confiar mais no Brasil, pois vê que temos um Banco Central independente, autônomo e desafiador em relação à própria presidente.
A curto prazo, também, os especuladores internacionais terão maior interesse em comprar títulos do governo brasileiro, pois encontram no exterior remuneração de 1% ou menos por seus “investimentos”, mas aqui se esbaldam com 8% pagos por nós, os míseros contribuintes.
Na verdade, esta não é a principal credibilidade do Brasil lá fora. Temos credibilidade por manter compromissos, por ter uma situação política estável, com plena democracia, e por contarmos, também com um mercado interno forte. Outro fator de credibilidade é a honestidade dos nossos índices.
A Argentina, por exemplo, rouba descaradamente nos índices. O IBGE de lá oferece números falsos, que são fator de riso no mundo. Aqui, não! Se a inflação está subindo, o nosso IBGE reconhece isso. E ainda há entidades paralelas, como FGV, Dieese e outras, mostrando ao mundo como está o desempenho da economia brasileira e provocando debates diversos.
O Brasil, por incrível que pareça, é um país sério, embora ainda se mantenha desestruturado e lento na realização de reformas já diagnosticadas.
Quanto ao aumento dos juros, sinceramente, só interessa aos especuladores financeiros. Se o então vice-presidente José Alencar estivesse vivo, diria: “Isto é um absurdo”.
Se o consumo está caindo, se a produção industrial idem, se o PIB ontem foi previsto para crescimento em 2,2% (pelo ministro Mantega), se o dólar está subindo, aumentar juros neste momento é uma irresponsabilidade – ou uma desonestidade, levando-se em conta que alguém vai ganhar muito com isso.