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abr 27 2018

ARTIGO: Crise sobre crise

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista

Os senadores que visitaram recentemente o ex-presidente Lula na prisão em Curitiba levaram um susto. O condenado aparentou boa forma, ótimo aspecto e melhor astral.

Até mesmo quando a senadora Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, se emocionou e ameaçou chorar, ele interveio. Disse que já passou por situações piores do que a atual e sempre conseguiu se levantar.

A partir daí começou a pedir informações sobre a política em cada um dos estados ali representados.

Lula sabe que não será candidato nas próximas eleições de outubro. Ele já verbaliza essa circunstância para seus companheiros.

Não conseguirá registrar sua candidatura. Mas acredita que deixará a prisão ainda neste ano, provavelmente depois de realizada a escolha presidencial. Acredita nisso.

Este conjunto de situações ajuda a manter elevada a moral do preso. Ele não trabalha com emoção, apenas com o cérebro e incentiva os correligionários a agirem da mesma forma.

Por essa razão, os dirigentes do Partido dos Trabalhadores estão se revezando em Curitiba para manter a pressão sobre a Polícia Federal.

É preciso ganhar o máximo nesta situação dificílima. E, naturalmente, criar o clima necessário para que o candidato à Presidência da República, abraçado pelo PT, tenha fácil circulação em todos os estados do país e a possibilidade de fazer boa campanha.

A senadora Gleisi Hoffman atua, vigorosamente, nas redes sociais. Ela chama atenção sobre si – o que auxilia na sua própria campanha – e coloca a prisão de Lula nos jornais no Brasil e no exterior.

O projeto é executado com profissionalismo. O governo Temer está se dissolvendo. A economia, que dava a melhor resposta às criticas contra o Palácio do Planalto, começa a enfrentar problemas.

O dólar disparou, por causa das indefinições no processo sucessório e de decisões inesperadas do Supremo Tribunal Federal. A já famosa Segunda Turma, apelidada de Jardim do Éden, costuma ser extremamente liberal.

Os três ministros, Lewandowski, Toffoli e Gilmar Mendes, despertam esperanças na prisão de Curitiba. Nesta semana, eles conseguiram fazer a maioria naquela turma para retirar do juiz Sérgio Moro provas que, segundo eles, não pertenciam ao processo originário de desvios de recursos na Petrobras.

Isso é música para os advogados de Lula. Tudo que eles desejavam. Os próximos recursos na defesa do ex-presidente serão dirigidos para este objetivo. Arguir que Moro não tinha competência – no sentido jurídico – para julgar Lula no caso do tríplex do Guarujá. Não há, segundo eles, conexão entre o processo e os desvios na petroleira.

Se o Tribunal aceitar a tese, o processo contra Lula deverá ser, simplesmente, anulado. E o ex-presidente será colocado em liberdade. Por essa razão, Lula diz a seus correligionários que deverá ser colocado em liberdade ainda neste ano.

A confusão jurídica esconde o debate sucessório. No momento, a disputa coloca no segundo turno Joaquim Barbosa ou Jair Bolsonaro.

Um é mercurial, explosivo e arrogante. O outro é arrogante, violento e não possui nada parecido com projeto de país. Os riscos brasileiros justificam que o dólar frequente patamares elevadíssimos.

Em setembro, a ministra Carmen Lúcia deixará a presidência do Supremo Tribunal Federal e passará a integrar a Segunda Turma.

Dias Toffolli será o presidente. Ele terá poder para colocar, ou não, processos em pauta. Ela terá a possibilidade de inverter a maioria no Jardim do Éden.

Se as previsões estiverem corretas, as votações por 3×2 deverão apontar na direção inversa da atual. Os garantistas ganharão um presidente, mas perderão o protagonismo.

Mais indefinições. Os ministros do STF parecem não compreender que o colegiado constitui o poder moderador no país. Ao contrário, seus integrantes geram crises sobre crises na véspera das eleições.

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