SERGIO GARSCHAGEN, DE CURITIBA
Há uns dois ou três anos li uma ampla reportagem sobre um professor da USP que se vestiu de gari e durante alguns meses trabalhou na limpeza do campus da universidade. Tudo pelo rigor científico de sua tese de doutorado, provavelmente em Sociologia.
Constatou na prática o que desconfiava na teoria: no longo período em que puxava a vassoura e empurrava o carrinho de lixo nenhum colega professor o reconheceu. Passavam ao lado dele e nem olhavam.
Sentiu na carne o desprezo da comunidade acadêmica. A grande maioria desses professores eram socialistas que, nas suas aulas, defendiam os direitos sociais dos trabalhadores. Mas, na prática não os viam, não os olhavam e nem cumprimentavam.
A reportagem, confesso, mexeu comigo. Passei a prestar atenção e a cumprimentar porteiros, garis, ajudantes de pedreiros, mas só que olhando-os nos olhos. Não apenas aquele bom dia obrigatório, em que sequer olhamos para o cumprimentado.
Há alguns dias, andando no parque Tingui, aqui em Curitiba, ao cruzar com um motorista de um trator puxando grama recém cortada, levantei o braço para saudá-lo.
Ele parou o veículo e perguntou se eu precisava de ajuda. Respondi que não e que apenas o cumprimentara.
Não é que o homem ficou emocionado? Desceu do trator, me abraçou e disse: “Pela primeira vez em anos de trabalho alguém me faz parar este trator apenas para me cumprimentar”.
Bem. Não era absolutamente a minha intenção, mas se ele se sentiu valorizado por um desconhecido, por que desmenti-lo?