ALFREDO PRADO
O Brasil inicia, dentro de dias, tal como o mundo, um novo ano cheio de incertezas e sem muitas expectativas de melhorias significativas no cenário recessivo em que está mergulhado há mais de dois anos.
O tímido pacote de medidas econômicas anunciado na última semana pelo governo do presidente Temer não deverá ter resultados visíveis no curto prazo, o que não lhe retira oportunidade e importância.
O problema é que os mais de 12 milhões de desempregados, oficialmente reconhecidos pelas estatísticas, não diminuem.
A atividade econômica e os principais indicadores, do IBGE à Fundação Getúlio Vargas ou à Confederação Nacional da Indústria (CNI), continuam a mostrar que as medidas pontuais propostas pelo governo, ou as reformas mais significativas levadas ao Congresso Nacional – como o teto dos gastos públicos e a reforma da Previdência, com sérios impactos na sociedade – ainda não tiveram repercussão no ânimo dos investidores, que não investem, e muito menos no dos consumidores, que, com os bolsos vazios, continuam a não comprar.
A paralisia econômica – resultante não tanto das fragilidades deste governo, mas sobretudo das asneiras cometidas pelos antecessores – junta-se à turbulência política, ou o contrário, se o leitor preferir, aprofundando uma crise marcada por intenso antagonismo entre interesses de classe divergentes, que o populismo petista conseguiu maquiar durante mais de uma década, mercê de negociatas e alianças políticas com os setores mais conservadores.
Debilitado por uma conjuntura de intensa luta política e pela própria composição – com o comprometimento de muitos dos seus integrantes com práticas de corrupção e outros crimes -, Temer tem procurado, com alguma coragem, da qual, aliás, se ufana, e aparente desapego -, tomar medidas que permitam ao Brasil sair do fundo do poço e, ao mesmo tempo, garantir a governabilidade, praticamente perdida durante os últimos meses da presidência sem rumo de Dilma Rousseff.
Mas, boa vontade e alguma coragem política não parecem ser suficientes para fazer as coisas certas. Os projetos mostram-se capengas e são vistos com desconfiança à esquerda, à direita, ao centro… As mais recentes pesquisas de opinião evidenciam que o governo Temer se se quiser manter até 2018 precisa mais do que alguma dose reforçada de coragem.
E muita coragem vai precisar o governo quando as delações de Marcelo Odebrecht, o poderoso patrão da multinacional brasileira, agora presidiário, e os depoimentos das suas sete dezenas de executivos começarem a vir a público.
Será o “fim do mundo”, como disse o apresentador de um dos telejornais da maior rede de televisão do Brasil, ao abrir o serviço noticioso no final da noite da última segunda-feira. Talvez o leitor ache um exagero. Também assim pensei, na ocasião. Começo, entretanto, a render-me às evidências.
As redes outrora montadas pelo grande chefão – magistralmente interpretado por Marlon Brando -, representante das grandes famílias, sicilianas ou napolitanas, do crime organizado, nas suas idas e vindas entre o quartel-general nova-iorquino e as tarantelas na terra natal, são, garantem-me, brincadeirinha ao pé do que está para ser posto a nu nos próximos meses.
A construção de um novo sistema político, menos americanófilo, e partidariamente mais ideologizado, talvez seja o caminho necessário, e naturalmente demorado, para tirar o Brasil do atoleiro em que foi lançado por gerações de políticos e empresários mancomunados em esquemas de poder assentes na corrupção.
Até agora, as muitas tentativas de castrar a luta contra a corrupção fracassaram, pelo menos aparentemente. Por enquanto, a generalidade da sociedade – da esquerda marxista, que sobreviveu aos encantos do polvo populista, à direita liberal – não parece disposta a abandonar a bandeira do combate à doença social que tomou conta do país. Uma luta que, para se consolidar em novas práticas, terá de ir muito além de Curitiba e do juiz Moro.
Ouvindo o bruááá das ruas, não é difícil perceber que o Brasil não suporta mais os desmandos dos grupos que, de uma forma ou outra, se têm perpetuado nas torres decisórias, alternando quais moças de vida airada esvoaçando, embora estas, suponho, graças a trabalho esforçado, arriscado, e talvez sofrido.
Aproxima-se o Novo Ano. Não será, julgo, um ano de novos tempos, mas ainda a continuação do que agora termina. Um Velho Ano.
Talvez seja o preço a pagar para um Brasil melhor. Assim sendo, Feliz Ano Novo, Feliz Velho Ano! E otimismo, ein! A vida não é feita só de maus dias…