FRANCISCO SEIXAS DA COSTA
Qualquer que venha a ser o desfecho do braço-de-ferro entre a Grécia e os instituições europeias, a reunião de ontem do Eurogrupo (o grupo dos países da UE que adotaram o euro) ficará na pequena história europeia por um episódio interessante.
O comissário francês Pierre Moscovici apresentou ao ministro grego das Finanças um texto de compromisso, cujo conteúdo foi agora divulgado.
Trata-se de um documento muito bem construído, em que é feita menção à difícil situação econômico-social que a Grécia atravessa, reconhecimento que sempre pareceu, a muitos observadores, essencial para que Atenas pudesse vir a aceitar outras medidas.
Numa lógica muito própria dos compromissos europeus, o texto “trabalhava” semanticamente algumas questões delicadas, sem, no essencial, mudar radicalmente as posições de ambas as partes. Era como um salvar de face que poderia abrir a porta a algum acordo.
Subitamente, ao que agora se sabe, o presidente do Eurogrupo fez retirar de discussão o documento que Moscovici apresentara a Varoufakis e regressou à linguagem mais dura que o Eurogrupo já avançara na reunião da passada semana.
Para Moscovici, a humilhação terá sido dupla: teve de recuar perante o ministro grego, dando o dito por não dito, e teve de ser ele próprio, na conferência de imprensa final, a dizer a frase mais dura que a UE disse à Grécia: que nada podia ser aceito que não representasse uma “extensão” do programa – precisamente a frase que os gregos não queriam ver utilizada.
O que se terá passado nos corredores de Bruxelas? Que sombra imperativa se terá projetado nas negociações? A história o dirá um dia.