«

»

mar 11 2016

ARTIGO: O PROTESTO NAS RUAS

ALFREDO PRADO (Do site Portugal Digital)

O protesto vai sair às ruas do Brasil no próximo domingo, dia 13. Mais um. Talvez o maior dos últimos anos, diz uma amiga que, desde há muito, vê a política com o distanciamento de quem prefere o conforto da poltrona ao bruááá das massas em movimento. “Desta vez também vou”, quase grita.

Na despensa do pequeno apartamento onde reside, na Asa Norte, em Brasília, vislumbro uma pequena bandeira com a estrela do Partido dos Trabalhadores, o PT. Uma bandeira que Náná – sei agora – não voltou a tirar de casa desde o mensalão. Isso foi logo no primeiro mandato do Lula.

– Esquerda e corrupção não rimam, afirma. Concordo, mas acrescento: decência e corrupção não casam. Náná ri. O que se trata agora é de decência. – É isso que queremos. Só isso, diz.

A convocação tem sido feita pelas redes sociais num movimento que chega a todo o país. O que parece unir os que fazem o apelo à participação – movimentos sociais, partidos, grupos de amigos, facebook, twitter, zapzap –  é o desejo de afastar Dilma do Palácio do Planalto. Dizem que com Dilma não é possível pôr termo à crise que se instalou no país.

 

QUAL O TAMANHO DA MANIFESTAÇÃO?

Quantos serão, quantos sairão às ruas das cidades brasileiras para pedirem que Dilma Rousseff e o seu governo deixem o Palácio do Planalto?

Não será excessivo – tendo em conta o ambiente que se vive, a elevada rejeição de Dilma Rousseff em praticamente todos os estratos sociais, o desemprego que afeta milhões, a inflação que atinge todos, a vergonha nacional que nos constrange à medida que se revelam mais e mais episódios da corrupção, da roubalheira comandada pelos novos sátrapas -, prever que muitos milhões, de uma forma ou outra, gritarão palavras de ordem contra o governo.

Os pedidos de impeachment ou de qualquer outra das soluções constitucionais encherão as ruas do Brasil.

O vale-tudo em política, protagonizado pelo PT e seus aliados (?), colocou o Brasil numa espiral recessiva e lançou o país numa crise, de contornos institucionais, por mais que o neguem, cujo fim ainda não se vislumbra, mas que, tudo o indica, já esteve mais distante…

Os erros cometidos ao longo dos quase quatorze anos de lulismo – uma variante do populismo (quase sempre de fachada de esquerda e alma de direita) tão bem caracterizado em algumas telenovelas -, não poderiam dar noutra coisa senão na derrocada econômica do país e numa grave crise política e social.

 

CRISE INSTALADA NO PAÍS

Hoje, as instituições estão quase paralisadas, largos milhares de trabalhadores foram atirados para o desemprego, muitas centenas de micro e pequenas empresas estão encerradas e o país sente-se desmoralizado por conta de esquemas gigantescos de corrupção que ganharam os contornos de um imenso polvo, cujos tentáculos entraram no setor público e no privado.

A roubalheira posta a nu pelos investigadores da Operação Lava Jato na estatal de petróleos e gás Petrobras – ainda não tem muito tempo propagandeada pelo marketing governamental como a joia do Brasil – não deve ser caso único.

A suspeita de que idênticos esquemas foram construídos em outras empresas para garantir a grupos políticos a perpetuação no poder pode vir a revelar-se uma realidade. “Quem procurar acha”, diz-me a minha amiga Náná.

A prática de pedágios cobrados a grandes corporações para se instalarem no Brasil, conforme se vai conhecendo, não são fatos isolados. Nem os nórdicos da velha Europa, mais parcimoniosos quando se trata de sucumbir à antiga doença social, nem os impulsivos mediterrânicos, nem os pragmáticos americanos, nem os tigres asiáticos, parecem escapar à prática da “propina”, ou seja, as “luvas”, os subornos.

Ativos ou passivos, ou as duas coisas, conforme o negócio, contribuem para a propagação da corrupção em todos os níveis.

Executivos de grupos empresariais portugueses que investiram no Brasil, em algum momento, conheceram bem essa realidade. Alguns terão participado do esquema. A ponta do véu chegou a ser levantada, mas, quem de direito, achou por bem manter as joias ocultas.

Outros vieram a público dizer que estavam sem paciência para os esquemas, pegaram nos euros, fecharam portas e voltaram a cruzar os ceús do atlântico sul, regressando à terrinha onde a corrupção também se faz presente, talvez mais encoberta, talvez com mais punhos de renda, como me disse, um dia, numa entrevista num hotel de Brasília, o ex-presidente do parlamento português Almeida Santos, já falecido.

O Brasil grita todos os dias: basta! E, no entanto, a crise arrasta-se e agrava-se. Políticos com algum bom senso dizem que o país está a ser levado para o abismo. Dentro das instalações palacianas, desgastada, a presidente Dilma Rousseff optou pelo autismo político. Uff! Há já alguns dias não a ouço dizer que os que a criticam são golpistas que ameaçam a democracia.

A presidente deve saber, suponho, que quem a critica é praticamente todo o país. A sua permanência no Palácio do Planalto causará maiores sofrimentos ao país. A sua saída não será certamente solução para todos os problemas, mas facilitará a procura de soluções.

 

PAÍS COMPROMETIDO PELOS DESMANDOS

Lula, investigado pela Polícia Federal e Ministério Público, na Lava Jato, e com a prisão preventiva pedida pelo Ministério Público de São Paulo, Dilma – escolhida por Lula para ser a transição obrigatória para o regresso do “salvador da pátria” a um terceiro mandato -, e os que ainda os acompanham, comprometeram seriamente a realização, no curto prazo, das aspirações de desenvolvimento e progresso social de milhões de brasileiros.

E comprometeram os que defendem uma mais justa redistribuição das riquezas nacionais.

O país assiste, constrangido, aos noticiários que diariamente nos dão conta de crimes, ilegalidades, irregularidades sem fim.

E vê também uma oposição frágil, com líderes muitas vezes também comprometidos com irregularidades e crimes, enconchada por trás das paredes dos gabinetes parlamentares, distante do povo e hesitante em promover ou mesmo aceitar que cabe aos protestos da nação a primeira e última palavra na defesa da democracia e da reposição da legalidade ameaçada pelos tentáculos de um polvo acuado, mas não derrotado.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*