«

»

fev 26 2019

BOM SENSO DO MOURÃO

TIBÉRIO CANUTO QUEIROS PORTELA

Acabo de assistir o discurso do vice-presidente, general Hamilton Mourão, na reunião do grupo de Lima. Minha primeira impressão é de um discurso equilibrado, em sintonia com o que há de melhor com a tradição da política externa brasileira. Firme na condenação à ditadura venezuelana, demarcou terreno com países – inclusive os EUA-, que a exemplo de Guaidó apontam como solução uma intervenção militar e externa para a grave crise venezuelana.

Hamilton Mourão apontou como solução uma eleição supervisionada por fóruns multilaterais, e várias vezes defendeu uma saída pacífica, na qual se respeite a autodeterminação dos povos e a soberania dos países. É uma peça de rejeição à intervenção externa e que aposta na pressão internacional – inclusive de de instituições econômicas globais, como caminho a levar o regime de Maduro a aceitar uma solução negociada, pela via eleitoral.

Certamente cada palavra do discurso do vice-presidente não está ali por acaso e refletem muito mais do que sua opinião pessoal. Seu discurso foi produto de muita discussão tanto no núcleo central do governo e expressa bem o pensamento das nossas Forças Armadas que não estão dispostas a ingressar em aventuras. Como falou em nome de governo, significa que Bolsonaro, ao menos momentaneamente perfilou-se ao lado do polo mais sensato do governo, isolando os “emperrados” do bolsonarismo; seu polo mais fundamentalista e reacionário, no qual militam seu filho Eduardo e o ministro pancadão, Ernesto Araújo.

A própria escolha de general Mourão para comandar a delegação brasileira foi uma desautorização das posições extremadas do ministro do Exterior, cuja nota sobre os incidentes na nossa fronteira com a Venezuela parece mais uma peça escrita pela oposição venezuelana.

Esses episódios poderiam ter desaguado em uma radicalização nas nossas relações com os países vizinhos. Se de um lado, militares venezuelanos jogaram bomba de gás lacrimogênio em nosso território, de outro, manifestantes venezuelanos usaram nosso território para jogar coquetel molotov em tropas de Maduro, em território do país vizinho.

O Brasil não pode servir de base de apoio para ações como esta e a ajuda humanitária, que para ser eficaz deveria ser coordenada por organismos internacionais tipo a ONU e Cruz Vermelho não pode desembocar em violações de princípios caros da nossa política externa, como o da não ingerência, e de respeito á autodeterminação dos povos, e a soberania de cada país.

Felizmente as palavras do vice-presidente foram nessa linha.

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*