LEDA FLORA
Quando o direitista Alfredo Buzaid foi ministro da Justiça, no governo do general Garrastazu Médici, pronunciou uma frase que sintetizou o espírito da ditadura militar: “A Revolução é verdadeiramente democrática porque surpreende o povo na sua vontade”. Muita gente teve náusea na hora.
O marketing político da campanha eleitoral de hoje me remete à frase nojenta. O que se busca é dizer o que o povo quer ouvir, com as honrosas exceções de sempre.Isso é essencialmente autoritário.
Não há compromisso com fatos. Verdades e mentiras viram farinha do mesmo saco. Candidatos falam aquilo que não sentem – e vai por aí.
Quando a campanha terminar, ninguém saberá de fato como é o eleito.
Daí surgem as decepções, pois vota-se numa farsa colorida, sorridente e boazinha da cabeça aos pés.
Vota-se num produto produto comercial fabricado sem escrúpulos. E a peso de ouro pago por muita gente.
A democracia propõe um governo eleito pelo povo e para o povo,sem privilegiar classes e abrindo oportunidades para todos. Isso me parece revolucionário demais e acaba por cair no utópico.
Na Grécia, onde nasceu, de cara os escravos ficaram de fora. Pelo que se sabe, o berço ocidental, até hoje, não viveu um dia democrático do jeito que inventaram por lá.
E fora de lá, a democracia pura foi vista por alguém? Eu nunca a encontrei por aí.