Em audiência pública que discutiu formas de combater o racismo no futebol, hoje (26), o presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), Paulo Paim (PT-RS) considerou a discriminação racial “uma chaga e um vírus que afeta todo o sistema imunológico da sociedade”.
Os senadores Romário (PL-RJ), Jorge Kajuru (PSB-GO) e Leila Barros (PDT-DF) manifestaram indignação com o fato de essa conduta persistir no século 21 e defenderam o empenho do Congresso Nacional em seu combate. Já o diretor de Desenvolvimento e Projetos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Leão, informou que a instituição desde o começo do ano, decidiu punir os clubes pela má conduta de seus torcedores e gestores.
Paim informou que a audiência pública, que foi realizada conjuntamente com a Comissão de Educação (CE), foi uma sugestão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a quem considerou “um lutador contra todo o tipo de racismo e preconceito”. O senador gaúcho disse que também manteve conversas prévias sobre o tema e tem recebido o apoio de senadores como Romário, que preside a CE, Jorge Kajuru e Leila Barros, relatora da Lei Geral do Esporte sancionada em 15 de junho. Paim considerou uma vitória a aprovação da matéria pelo Congresso, destacando que o texto traz artigo para criminalização do racismo no esporte.
Romário disse que o tema o afeta de modo especial, por ser negro e ter sido atleta. Ele considerou marcante a influência da matriz africana sobre a forma de se jogar, mas afirmou que o racismo ocorre de maneira estrutural e velada dentro das próprias administrações dos clubes de futebol. Ele deu como exemplo o fato de haver poucos negros nas funções de treinadores e dirigentes dessas entidades.
” Manifestações racistas de torcedores são uma demonstração de quem não aceita atletas negros de sucesso. As leis têm poder pedagógico e precisamos torná-las efetivas e concretas para combater a discriminação, não apenas no esporte, mas no nosso dia a dia. Sei que não mudaremos tudo da noite para o dia, mas eventos como essa audiência pública são fundamentais para começarmos a desfazer essa nefasta cultura e acabar de vez com a prática do racismo, numa luta que requer raça e determinação. ”
O diretor de Desenvolvimento e Projetos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Leão, pediu a cooperação dos setores públicos e privado, além da sociedade civil, com a causa. Ele informou que a instituição já está implementando medidas de combate ao racismo, entre as quais, a responsabilização dos clubes pela má conduta de seus torcedores, jogadores e gestores, com sanções administrativas que podem ir de advertência, portões fechados e multas, podendo chegar à pena máxima na forma da perda de pontos.
“Há muito a ser feito, mas também há muito sendo feito. O racismo não é culpa da CBF, como não é de nenhuma outra instituição, mas assumir a responsabilidade significa que muito pode ser feito em prol da transformação que a gente precisa. Todas essas condutas, a exemplo do que aconteceu na Espanha com Vinicius Jr, têm sido enfrentadas juntamente com órgãos como o Itamaraty e até mesmo a Interpol, para investigar, instaurar os processos e punir esses criminosos”.
Também participou da audiência o ex-goleiro Aranha, alvo de injúria racial durante uma partida do Santos, sua então equipe, contra o Grêmio, em Porto Alegre, em 2014. Aranha participou virtualmente do debate e se colocou à disposição dos senadores para propor soluções.
“Quem se espanta com racismo no futebol não conhece a História. É preciso termos conhecimento profundo sobre esporte e sobre racismo, para termos avanços nessa jornada. E a mídia e os jogadores podem fazer total diferença nessa luta, por terem poder de influenciar meninos a mudar corte de cabelo, roupa e até forma de andar, por exemplo. Se a gente quer ter ídolos capacitados no futuro, devemos cuidar dos jovens hoje”, disse.
Fonte: Agência Senado
Foto: EBC