RENATO RIELLA
Muitos ótimos jornalistas me seguem no BLOG. Por isso, vou prestar uma homenagem póstuma talvez interessante.
Costumo dizer, sem muito exagero, que tudo o que aprendi na vida foi com o meu primeiro chefe de reportagem, Antônio Lamenha Lins, no Diário de Notícias de Salvador – de 1968 a 1973.
A gente gritava do meio da redação coisas como:
-Lins, quem é o marido da Xuxa?
-Como se escreve o nome daquele físico tortinho, da cadeira de rodas?
-Quem é o ministro da Pesca?
-Como se escreve o nome complicado daquele meio de campo genial da Alemanha?
Mal humorado, ele respondia com segurança informações desse tipo, que hoje a gente nunca lembra.
Lins sabia tudo sobre tudo, embora não tivesse nem segundo grau. Era jornalista prático.
Foi tuberculoso, era solteiro aos 50 anos, morava num pardieiro e gostava de tocar ao violão a Saudosa Maloca – e me ensinou tudo. Nunca reclamava da dura vida.
Tempos depois, me visitou em Brasília, quando fui chefe de reportagem da Voz do Brasil. Ficou a tarde toda ao meu lado, liberando matérias. Quase pai! Expliquei para a redação que Lins sabia tudo. De vez em quando alguém perguntava, para testar: “Lins, quem é o presidente do Tribunal Superior de Justiça?” Claro que ele sabia. Moleza!
Viveu sempre pobre, na velhíssima Bahia. Nem tinha carro. Na década de 80, ACM, o Malvadeza, gostava muito do quase velho Lins. Graças a Deus empregou ele muito bem, no Banco de Desenvolvimento da Bahia. Daqui de Brasília, chorei de felicidade.
Poucos meses depois, soube que Lins pulou do quinto andar no tal banco. Como se diz, dinheiro não traz felicidade.
Provavelmente, lá no ótimo emprego, ninguém gritava assim: “Lins, você que sabe tudo…”
Rezo sempre pelo Lins, pois a carga é pesada para suicida. Mas ele tem enorme saldo de bondade. Foi quase um santo com amargura contida.
