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jun 02 2013

E se o administrador eleito for inimigo do governador?

 RENATO RIELLA

 Como se diz na Bahia, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB) está metendo o dedo numa ferida feia, ao discutir a eleição de administradores regionais para o Distrito Federal.

A Constituição de 1988 estabeleceu que o DF é indivisível. Isto é, não pode ter municípios.

A Lei Orgânica aprovada pela Câmara Legislativa consolidou a figura das Regiões Administrativas, que hoje são 31. Algumas são justificáveis, como Brasília, Taguatinga, Ceilândia, Gama, Sobradinho, Planaltina, Brazlândia, Guará e mais outras.

A mais nova, Fercal, não tem nenhuma estrutura. Outras se confundem, como Riacho Fundo I e II, ou mesmo Taguatinga com Águas Claras.

É um assunto muito complicado, que nenhum governador se dispôs a discutir, nem mesmo tentou contratar uma consultoria de alto nível para analisar mais profundamente.

A realidade de hoje é péssima. Os governadores passaram a dar a deputados o “direito” de nomear administradores regionais nas suas bases de influência. Isso é uma barbaridade. Os políticos indicam pessoas geralmente sem expressão, “paus-mandados”.

São quase sempre administradores sem prestígio, nem grande valor na sociedade, que nunca poderão tentar concorrer com o político patrono da sua escolha em futuras eleições. Gente sem voto nem na própria família.

A inexpressividade dos administradores faz com que não tenham autoridade. São tratados como porteiros de edifícios (nem mesmo como síndicos) por secretários de estado, dirigentes de estatais e pelos demais deputados eleitos.

As cidades vivem sem autonomia, sem orçamento próprio, sem espaço na mídia – sem nada. Sem capacidade de protesto, a não ser quando alguns arruaceiros queimam pneus nas pistas principais.

Já escrevi aqui muitas vezes que a Ceilândia é a única cidade do mundo com 600 mil habitantes que não tem um cemitério, um cinema, um shopping, um hospital que preste – nada.

Vejam só a Ceilândia, que não elege nunca nenhum deputado federal, nem distrital. Poderia eleger até um senador e ser decisiva na eleição do governador. Mas politicamente é uma cidade atrofiada, sem lideranças visíveis. A consciência política não foi nem será desenvolvida tão cedo.

O modelo está errado. Rollemberg acerta quando lança uma Proposta de Emenda Constitucional para mudar as coisas, mas está carente de análise mais profunda, não tem pesquisas suficientes para abordar a questão e, no seu projeto, não consegue oferecer solução para os principais dilemas.

Se a Ceilândia hoje está péssima, ficará ainda pior caso eleja um administrador regional inimigo do governador de plantão. Por outro lado, imagine um administrador eleito no Paranoá sem uma câmara para fiscalizá-lo e sem um orçamento próprio. O que fará?

É preciso que todas as forças políticas do DF, de forma democrática e humilde, se debrucem sobre este assunto em busca da melhor solução. Como está, não dá. Mas anotem: nada acontecerá tão cedo. O povo que se exploda.

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